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3. Entre a Hispânia e o Norte de África (1415-1495)

               nos  finais  da  Idade  Média,  entre  artigos,  livros  e  teses  académicas  (algumas
               das quais levadas a cabo ao abrigo de mestrado em história militar medieval) .
                                                                                     6
               Partindo desses trabalhos, observámos uma panóplia de fontes que o século XV
               nos oferece, com destaque para as crónicas, ou não fossem os finais da Idade
               Média um período de propaganda régia pela construção escrita da memória; os
               tratados, como aqueles que foram produzidos no seio da dinastia de Avis; além
               de documentação vária, publicada e inédita, que citaremos ao longo do texto, no
               qual pretendemos conciliar o rigor da investigação com uma leitura agradável.



                     as campanhas que fizeram a história
                     No virar de página para o século XV, o reino de Portugal encerrava com a
               vizinha Castela um longo ciclo de conflito(s): cerca de um quarto de século desde
               a Crise de 1383-1385; mas mais de quarenta anos, se considerarmos as Guerras
               Fernandinas. Porém, a assinatura da paz de 1411, em Ayllon, permitiria a D. João
               I olhar para novos horizontes.
                     A  conjuntura  era  difícil.  Desdobrando-se  em  reuniões  de  Cortes,  o
               monarca procurava afirmar a autoridade da Coroa, ora reorganizando o serviço
               dos vassalos, ora reavendo terras que doara durante a guerra aos nobres. Ao
               mesmo tempo, o velho rei esforçava-se por sanear Portugal da profunda crise
               económica,  reformando  (em  vão)  a  moeda  –  devido  à  escassez  de  metais
               preciosos desvalorizou em média, por ano, 61 % entre 1399 e 1422! Na periferia
               da Europa, apertado entre Castela e o Atlântico, Portugal escolheria o mar como
               saída do “impasse hispânico”, como lhe chamou Bernardo Vasconcelos e Sousa .
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                     De facto, a monarquia castelhana recusou a proposta da Corte portuguesa
               de  avançar  sobre  Granada,  levando  D.  João  I  direcionar-se  para  o  Norte  de
               África. O reino islâmico de Fez (Marrocos), onde os portugueses comerciavam
               há  séculos,  tornou-se  uma  alternativa  e  Ceuta,  no  lado  sul  das  Colunas  de
               Hércules. Um ataque a esta praça permitiria ao rei de Portugal limpar o estigma
               da sua bastardia na Cristandade; evitar a deserção dos fidalgos mais novos e




               6  COSTA, António Martins – “A renovação dos estudos de história militar portuguesa do século
               XV” in Nos 600 anos da conquista de Ceuta: Portugal e a criação do primeiro sistema mundial:
               actas do XXIV Colóquio de História Militar. Coord. Francisco J. Rogado Contente Domingues. Org.
               Jorge Silva Rocha. Lisboa: Comissão Portuguesa de História Militar, 2016, pp. 127-138.
               7  SOUSA, Bernardo Vasconcelos e – “A dinastia de Avis e a refundação do reino (1383-1438)” in
               História de Portugal. Coord. Rui Ramos. 3ª ed.. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2010, pp. 139-144.
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