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3. Entre a Hispânia e o Norte de África (1415-1495)

                     A 2 de Setembro a frota partiu de volta a Portugal, onde em clima de festa
               D. João I faria, em Tavira, D. Pedro duque de Coimbra e D. Henrique duque de
               Viseu. O pior seria tirar partido de Ceuta – os muçulmanos desviaram as rotas
               comerciais e a conquista tornar-se-ia um pesadelo financeiro para Portugal –
               e defendê-la: nos dias seguintes à tomada, os mouros ensaiaram um ataque,
               seguido  de  duas  ofensivas  maiores  (em  1418  e  em  1419)  que  obrigaram
               inclusivamente ao reforço dos infantes portugueses, D. Henrique e D. João .
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               Ceuta foi o ponto de partida para a aprendizagem de um novo tipo de guerra.
               Para  defender  a  praça,  houve  que  aprender  a  “segurar  o  campo”  com  um
               sistema de vigias e atalaias que, em rede, se avisavam da aproximação inimiga,
               preparando a fortaleza para o embate. Ali os homens de armas e os besteiros
               desempenhavam  um  papel  importante  nas  muralhas,  nas  quais  a  artilharia
               passou a ser progressivamente utilizada, com a arquitectura militar a adaptar-
               -se progressivamente, abrindo as suas troneiras para as peças. Mas, a par da
               defesa dos assédios mouros, as guarnições portuguesas acostumaram-se a um
               quotidiano belicoso, quase um modo de vida: as almogavarias. Eram acções em
               que contingentes portugueses penetravam, por vezes, dezenas de quilómetros
               em território inimigo, tirando partido da mobilidade da cavalaria, tendo em vista
               o ataque a aldeias, lugares e campos. Aqui o objectivo era o roubo do gado, o
               saque de alfaias e outros bens e a captura de prisioneiros, num mundo em que
               a economia do resgate se revelava lucrativa .
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                     Entretanto sem novas campanhas, a vida do reino passava pela abertura
               ao Atlântico, com a descoberta da Madeira e dos Açores e com o reacender das
               antigas ambições sobre as Canárias, no que o infante D. Henrique encontrou
               a  resistência  castelhana.  Então,  o  reinado  joanino  fazia  caminho  para  a
               consolidação da dinastia, com os enlaces matrimoniais dos seus filhos junto de
               casas estrangeiras, como Aragão ou a Borgonha. Nessa sequência, ainda antes
               de fechar os olhos, o velho rei viu assinar-se a paz perpétua entre Portugal e
               Castela, no ano de 1431, em Medina del Campo .
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                     Subido ao trono em 1433 e com uma vasta experiência de governo, D.
               Duarte viu o seu reinado marcado pela discussão do regresso às campanhas



               15  IDEM – Ibidem, pp. 129-140.
               16  IDEM – Ibidem, pp. 108-116; DUARTE, Luís Miguel – “A guerra em Marrocos: aprender tudo de
               novo” in Nova História Militar de Portugal. Vol. 1, pp. 409-413.
               17  MONTEIRO, João Gouveia – Ibidem, pp. 150-151.
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