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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
ataque da parte do sertão, na ligação ao continente, os homens de D. Henrique
desembarcariam na Almina, na zona oposta do istmo, onde ganhariam uma
testa de ponte e seriam, entretanto, reforçados pelos anteriores .
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Depois de uma noite nos navios em oração e preparação, ao amanhecer
de 21 de Agosto um vedor do conde de Barcelos precipitou o ataque ao saltar
para praia de Santo Amaro, na zona da Almina, levando D. Henrique a entrar
num batel e a ir no seu encalço. Às tantas, juntou-se o infante herdeiro, D.
Duarte, tendo os cerca de 500 portugueses em terra entrado de roldão com
os mouros pela porta da Almina, arrastando a vinda de mais combatentes da
frota. A luta foi intensa nas ruas estreitas e tortuosas de Ceuta com os cristãos a
tomarem posições sucessivamente no sentido do castelo, onde o alcaide mouro
se refugiara; enquanto os infantes ocupavam os pontos altos, outros fidalgos
tentavam destruir as portas com machados e fogo; o desembarque geral acabou
ordenado por D. Pedro, depois de receber ordem do rei para avançar. Com a
chegada de reforços a luta subiu de intensidade, embora a sede, o calor e o
esgotamento começassem a conduzir alguns homens para zonas de sombra e
de abastecimento de água. A certa altura, D. Duarte convocou os capitães para
atacar a mesquita, o que deu tempo a Salah-ben-Salah para se escapar do castelo,
onde se veio a hastear pacificamente a bandeira de S. Vicente (o estandarte
dos contingentes de Lisboa). Ao final do dia, a operação anfíbia deixava a praça
em mãos portuguesas, como sucederia com outras fortalezas marroquinas. Mas
abria-se um dilema .
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Saqueada a cidade, convertida e mesquita em igreja e ganhas as esporas
de cavaleiros pelos infantes, o rei reúne o conselho e, apesar das vozes
contrárias, decide manter a praça. De facto, não era fácil conseguir quem ficasse
como capitão: após as escusas do condestável Nun’Álvares Pereira, do marechal
Gonçalo Vasco Coutinho e do guarda-mor Martim Afonso de Melo, “candidatou-
-se” ao lugar o alferes do infante D. Duarte, D. Pedro de Meneses, que governaria
a praça por mais de 20 anos. Consigo ficaram cerca de 2500 soldados (entre
os quais 600 besteiros), apoiados por duas galés para vigiar o estreito e pelo
material de taracena, onde se encontrava uma bombarda – a artilharia começava
a afirmar-se...
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12 MONTEIRO, João Gouveia, COSTA, António Martins – 1415: A conquista de Ceuta, pp. 52-54.
IDEM – Ibidem, pp. 55-73.
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IDEM – Ibidem, pp. 85-92.
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