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3. Entre a Hispânia e o Norte de África (1415-1495)
cerca de trinta e cinco anos volvidos . Provavelmente em 1412, teve lugar uma
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acção de espionagem levada a cabo pelo Prior do Hospital (Álvaro Camelo) e
pelo capitão-mor do mar (Afonso Furtado), que reconheceram as defesas e
os lugares de desembarque. Para preservar o sigilo, não se reuniram Cortes
e encontraram-se alternativas de financiamento, como a recolha de metais
preciosos e a emissão de moeda. O ataque viria a ser definido pelo rei, pelos
infantes e pelos principais detentores dos ofícios militares, numa reunião
ocorrida em Torres Vedras, em 1414, fixando-se a partida da armada para Julho
do ano seguinte. A partir de então a azáfama em Portugal foi grande, como
tão bem nos ilustra a Crónica da Tomada de Ceuta: tarace reino
construíam-se na fretavam-se outros, inclusivamente estrangeiro
(Galiza, Biscaia, Inglaterr Ale mobilizavam-se combatentes,
c dest par fidalg c armamento, o
equipament muniçõe er c c de embarque, como
barric de vinho, peixe carne salgada, devidament acondicionados
em tonéis. Todo este esforço colectivo era coordenado pela família real: D. João
I superintendia o provimento dos navios e das armas; D. Henrique ocupava-se
da frota do norte, que reunia no Porto; enquanto D. Pedro organizava a armada
do centro e sul, em Lisboa; por fim, coube a D. Duarte, o infante herdeiro, o
pesado fardo da governação do reino .
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Concentrada no Tejo, a armada largou a 25 de Julho de 1415, para passar
uma semana em Faro à espera de vento e, por fim, alcançar o Estreito de
Gibraltar a 7 de Agosto. A primeira travessia para África não foi linear: devido
ao nevoeiro e às correntes, parte da frota foi atirada na direcção das praias de
Málaga. Reagrupados os navios, o conselho régio reuniu entre 19 e 20 de Agosto
perto de Algeciras e, pese as vozes contrárias, D. João I persistiu no avanço sobre
Ceuta. Com o efeito surpresa comprometido por a frota já ter sido avistada
pelo alcaide, Salah-ben-Salah, os portugueses acertaram uma manobra de
diversão: enquanto as galés de D. João I e as naus de D. Pedro simulariam um
10 A Crónica da Tomada de Ceuta, composta especificamente para narrar a conquista da cidade do
Estreito, foi redigida na ressaca da Batalha de Alfarrobeira, entre 1449 e 1450, pelo cronista Go-
mes Eanes de Zurara, que teve como especial testemunha do feito africano o infante D. Henrique.
Veja-se: GOMES, Rita Costa – “ZURARA, Gomes Eanes de” in Dicionário da Literatura Medieval
Galega e Portuguesa. Org. e coord. De Giulia Lanciani e Giuseppe Tavani. 2ª ed. Lisboa: Editorial
Caminho, 2000, pp. 687-690.
ZURARA, Gomes Eanes de – Crónica da Tomada de Ceuta por El-Rei D. João I. Edição de Francis-
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co Maria Esteves Pereira. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa, 1915, cap. XXIII-XXX, pp. 72-93.
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