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3. Entre a Hispânia e o Norte de África (1415-1495)
somente tenham comparecido 8000 combatentes. De facto, a operação começou
mal para jamais se recompor. Desembarcado em Ceuta, D. Henrique conduziu
a hoste por terra enquanto a armada fundeou frente a Tânger, que assim pôde
preparar a sua defesa. Erro crasso, os portugueses instalaram o arraial sem
ligação à frota. Ao cabo de pouco tempo de um cerco infrutífero com recurso
a artilharia e a uma estrutura apalancada, viram chegar um enorme exército
muçulmano de socorro que, de imediato, os fez passar da condição de sitiantes
a sitiados. A situação tornou-se insustentável para a hoste comandada por D.
Henrique, que, entre perdas e privações, acabou por capitular em Outubro,
em condições humilhantes: o preço para reembarcar foi o cativeiro do próprio
infante D. Fernando, o penhor dos mouros para a devolução de Ceuta, conforme
reclamavam. Como referiu João Gouveia Monteiro, “o fracasso de Tânger
mostrou a inconsistência de uma estratégia de conquista territorial” .
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Passado um ano da triste expedição, discutia-se ainda no reino entre a
entrega de Ceuta e a libertação de D. Fernando quando, sem que nada o fizesse
prever, D. Duarte fechou os olhos, vítima de peste, em Tomar, corria o dia 9
de Setembro de 1438. A morte do rei abriu um novo ciclo de conflito pois,
atendendo à menoridade do herdeiro do trono, D. Afonso, a sua tutela e o
governo do reino passaram a ser disputados pela rainha viúva, D. Leonor, e pelo
infante D. Pedro, o mais velho dos irmãos legítimos do defunto monarca.
De facto, fracassada a solução de uma regência partilhada entre os
cunhados, proposta pelas Cortes de Torres Novas (1438), seguiu-se um período
de enfrentamento civil. Em Setembro de 1439, Lisboa colocou-se ao lado de
D. Pedro, que no mês seguinte entrou na cidade à frente de 1800 cavaleiros e
2600 peões, numa clara demonstração de força nas vésperas das Cortes. Sem a
presença da rainha (que se refugiara na sua vila de Alenquer e solicitara o apoio
dos irmãos, os infantes de Aragão), a assembleia entregou a regência e a tutela
do pequeno monarca ao infante D. Pedro. Mas D. Leonor, disposta a resistir até
ao limite, fugiu para o castelo do Crato, onde contava com o apoio de D. Nuno
de Góis, prior do Hospital. Foi sobre as fortalezas desta ordem militar que o
regente fez avançar as hostes, numa campanha em que se afirmou o emprego
da artilharia no reino, com os seguintes resultados: em meados de Dezembro
de 1440, o vedor da fazenda, D. Lopo de Almeida, tomou Belver; nesse fim de
20 MONTEIRO, João Gouveia – História Militar de Portugal. Coord. Francisco Contente Domingues.
Lisboa: A Esfera dos Livros, 2017, p. 152.
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