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3. Entre a Hispânia e o Norte de África (1415-1495)

               no seu encalço, na madrugada de 18 de Maio, nas proximidades de Castanheira
               do  Ribatejo,  o  duque  de  Coimbra  soube  que  a  capital  estava  sob  controlo
               absoluto do monarca. Por isso, apesar da desproporção de efectivos, decidiu
               travar  batalha  ali  perto,  elegendo  uma  posição  dominante  nas  margens  do
               ribeiro de Alfarrobeira. Ali fortificou o arraial, instalou artilharia nos pontos-
               -chave e aguardou o exército real .
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                     No dia 20 de Maio chegou ao local a hoste de D. Afonso V, que observou
               a posição do inimigo e distribuiu besteiros e espingardeiros por pontos elevados
               e arborizados. O duque de Coimbra reagiu e fez disparar artilharia contra estes
               grupos  de  atiradores,  tendo  um  dos  projectéis  caído  próximo  da  tenda  real.
               Enfurecido,  o  monarca  deu  ordem  para  o  ataque  geral  que,  pela  sua  massa
               de combatentes, rapidamente tomou a posição apalancada dos rebeldes e os
               chacinou, incluindo o infante D. Pedro – morto por um virotão de besta e deixado
               insepulto no campo, sinal de radicalismo do momento !
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                     A Batalha de Alfarrobeira abriu um ciclo de afirmação do poder senhorial
               na  Corte  que  recuperou  o  sonho  de  expansão  norte-africana  sobre  o  Islão,
               como convidava a conjuntura. De facto, a queda  de Constantinopla  às mãos
               dos Otomanos, em 1453, levou a Santa Sé a apelar uma nova guerra santa no
               Mediterrâneo a que D. Afonso V aderiu, ora amealhando bulas, ora preparando
               uma frota. Mas a ideia foi-se desvanecendo entre os príncipes cristãos e, alguns
               anos volvidos, o rei português voltou-se para o Magrebe sonhando com Tânger.
               Porém,  logo  foi  aconselhado  a  optar  por  um  modesto  porto  junto  a  Ceuta:
               Alcácer-Ceguer, topónimo árabe que significa “castelo pequeno” .
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                     Em  meados  de  Outubro  de  1458,  uma  frota  de  mais  de  duzentas
               embarcações e cerca de 25 000 homens (combatentes e não-combatentes)
               deixava  o  Algarve  para  ir  fundear  ao  largo  de  Alcácer-Ceguer,  no  dia  21
               daquele mês, quando teve lugar a operação de desembarque e de instalação
               do cerco e da artilharia. Após um ataque para testar a defesa (que reagiu
               com  trons,  virotões,  fogo  e  pedras),  seguiu-se  um  assalto  em  massa,  com
               o encostamento de escadas e com disparos de uma grossa bombarda, que


                 MORENO, Humberto Baquero – A Batalha de Alfarrobeira: antecedentes e significado histórico.
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               Vol. 1. Coimbra: Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, 1979, pp. 403-425.
               24  IDEM – Ibidem, pp. 425-428.
               25  DUARTE, Luís Miguel – “A conquista de Alcácer Ceguer em 1458” in Nova História Militar de
               Portugal. Vol. 1, pp. 424-425.
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