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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

                  Cada  vez  mais  alheado  da  governação,  D.  Afonso  V  veio  a  falecer,  em
            Sintra, no mês de Agosto de 1481. Subido ao trono, D. João II preocupou-se
            em afirmar a autoridade da Coroa, em sanear a fazenda régia e em construir o
            seu projecto imperial. Por isso, ao cabo de poucos meses de reinado, ordenou
            a construção do castelo de S. Jorge da Mina (Gana), sob a direcção de Diogo da
            Azambuja, que levantou esta empreitada em 1482. Com a nova fortificação, o
            reino marcava posição no trato do ouro no golfo da Guiné e garantia um ponto
            de apoio na exploração da costa africana, então bastante estimulada por D. João
            II – seis anos depois, em 1488, Bartolomeu Dias dobraria o Cabo das Tormentas .
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                  Porém,  o  interesse  expansionista  em  Marrocos  não  esmoreceu  com  o
            Príncipe Perfeito. Na Corte portuguesa determinou-se a construção, na foz do
            rio Lucos, de uma fortificação que apontava armas a Alcácer-Quibir e que abria
            caminho para a própria cidade de Fez. A expedição que deveria construir a fortaleza
            da Graciosa partiu de Lisboa em Fevereiro de 1489, com homens e materiais,
            às  ordens  de  Gaspar  Jusarte.  Porém,  o  socorro  muçulmano  surpreendeu  os
            portugueses, que dada a sua posição se viram impedidos de receber as caravelas
            com os reforços enviados por D. João II a partir do Algarve. Assim, em Agosto, os
            cristãos renderam-se, não restando a D. João II outra alternativa senão justificar-
            -se à Santa Sé, reafirmando o seu propósito e justificando o desaire . Seria a
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            última  grande  campanha  do  século  XV  perpetrada  por  portugueses,  que  na
            centúria seguinte as repetiriam na Índia, onde Vasco da Gama chegaria em 1498,
            assim como em Marrocos, onde durante o reinado de D. Manuel I se atingiria o
            auge da sua presença.


                  a capacidade de mobilização da monarquia portuguesa:
                  um exército que cresce
                  Conhecer a quantidade de homens que os reis de Portugal conseguiam
            reunir para a guerra no século XV é um dos maiores desafios para qualquer
            historiador militar que estude a transformação marcial nesse período. Em boa
            verdade, as fontes não nos facilitam esse trabalho. Com frequência as crónicas
            omitem  ou  exageram,  em  sentidos  diferentes,  o  número  de  combatentes
            consoante as conveniências. Daí que, como sugere João Gouveia Monteiro, os


            35  MONTEIRO, João Gouveia – História Militar de Portugal, pp. 160-161.
            36  DOMINGUES, Francisco Contente – “A guerra em Marrocos” in Nova História Militar de Por-
            tugal. Vol. 2. Coord. António Manuel Hespanha. Rio de Mouro: Círculo de Leitores, 2004, p. 227.
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