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3. Entre a Hispânia e o Norte de África (1415-1495)
Mas se estes eram os números aproximados que a monarquia portuguesa
conseguia levantar para campanhas ad hoc, a verdade é que a mesma não
deixou de ensaiar embriões de exércitos permanentes. Se no reinado de D. João
I houve a ideia de criar um exército permanente não só com a “ordenança certa”
de 3200 lanças, com a conquista de Ceuta as guarnições africanas obrigaram à
manutenção de homens em armas: sabemos que na cidade do Estreito, após a
sua conquista, ficaram 2500 homens; a partir de 1471, com as tomadas de Arzila
e de Tânger, esse número terá aumentado para cerca de 5000 homens em alerta
permanente e a viver essencialmente do seu soldo .
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O regimento da defesa de Tânger , em 1472, estipulava que a cidade
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tivesse permanentemente 500 combatentes, os “homens de soldo e de peleja”,
além de 40 cavalos – tão importantes para as almogavarias em solo inimigo. O
capitão da praça contava então com 160 homens de armas, certamente cavaleiros
oriundos da nobreza, a elite da guarnição, cada um com um soldo mensal de
100 reais; 184 homens de pé, provavelmente peonagem concelhia, que auxiliaria
na defesa da praça e na condução de cativos e de gado extramuros, cada qual
recebendo 50 reais por mês; 130 besteiros (60 reais por mês) e 10 bombardeiros
e espingardeiros (300 reais por mês); 10 escutas (200 reais mensais) e seis atalaias
(100 reais mensais), na rede fora da praça para vigiar o campo. Só entre os
“homens de peleja”, prontos para situações de guerra, eram gastos mensalmente
em Tânger 38 600 reais.
Regimento da guarnição de tânger (1472)
combatentes número percentagem soldo (por combatente)
Homens de armas 160 32 % 100 reais
Homens de pé 184 37 % 50 reais
Besteiros 130 26 % 60 reais
Bombardeiros e 10 2 % 300 reais
espingardeiros
Escutas 10 2 % 200 reais
Atalaias 6 1 % 100 reais
total 500 100 % 38 600 reais
50 IDEM – Ibidem, p. 172.
51 Biblioteca Nacional de Lisboa, Códice nº 1782. Livro da Barca de Tanger, fls. 1v-3v.
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