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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            duque de Bragança, o “Regimento da Guarda del Rej” aumenta o efectivo de 100
            a 200 lanças  – impressionante se tivermos em conta que Carlos VII de França,
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            por então, contaria com uma guarda de 31 homens de armas e 124 atiradores .
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                  A operacionalidade desta guarda real seria de tal ordem que, ainda durante
            o governo de D. João II, se revelaria uma verdadeira task-force quando se decidiu
            uma expedição urgente com destino à praça de Arzila. De acordo com Garcia de
            Resende, em 1488, o monarca nomeou o capitão dos ginetes Fernão Martins
            Mascarenhas para, com os “caualleiros de sua guarda” , encabeçar uma força
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            de 150 cavaleiros, além de outros homens de pé, espingardeiros e besteiros.
            Sabemos que foi este contingente, embarcado em 30 caravelas e taforeias, se
            dirigiu à praça de Arzila, de onde juntamente com os homens da guarnição de
            Tânger empreenderam uma expedição ao campo de Alcácer-Quibir e cativaram
            250 mouros, além de saquearem prata, ouro e muitas bestas .
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                  A nobreza
                  Na viragem para o século XV, os nobres representavam o núcleo essencial
            da hoste régia em Portugal . De facto, quando em inícios de Quatrocentos o
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            conselho de D. João I estipulou que o rei deveria passar a dispor de uma ordenança
            certa de 3200 lanças – homens devidamente encavalgados e armados de arnês
            – sempre prontas para o servir 500 seriam fornecidas pelos grandes vassalos e
            2360 pelos escudeiros de uma só lança (a pequena nobreza, que tinha crescido
            anormalmente) –, somente sobrando 340 unidades, cujo contributo caberia às
            ordens militares. Passada a guerra com Castela, o rei de Boa Memória procurou
            reservar para a Coroa o direito de possuir vassalos, apesar dos protestos entre
            a  fidalguia,  como  sucedeu  com  o  próprio  condestável  Nun’Álvares .  Estes
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            combatentes eram controlados por um vedor dos vassalos que, no seu caderno,
            controlava o número de lanças que cada qual dispunha para servir a Coroa e



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               CHAVES, Álvaro Lopes de – Livro de apontamentos, 1438-1489: Códice 443 da Colecção Pom-
            balina da B. N. L.. Introd. e transcrição de Anastásia Mestrinho Salgado e Abílio José Salgado.
            Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1983, pp. 68-71; pp. 82-85.
            62  MONTEIRO, João Gouveia – A guerra em Portugal nos finais da Idade Média, p. 31.
            63  IDEM – Ibidem, p. 30.
            64  IDEM – Ibidem, p. 31.
            65  IDEM – Ibidem, pp. 33-34.
            66  IDEM – História Militar de Portugal, p. 170

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