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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
De facto, a nobreza lusa marcou posição em todas as campanhas
que tiveram lugar no reino e no Magrebe. Não houve empresa militar
em preparação que a Coroa não mandasse logo “perceber os Grandes e
Senhores” , como nos descreve Rui de Pina ao eclodir a Guerra da Sucessão
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de Castela em 1475. De resto, nessa campanha vimos os nobres assumir as
principais forças na ordem de batalha que opôs os homens de D. Afonso V e
do príncipe D. João às tropas de Fernando de Aragão junto ao Douro. Nesse
confronto na margem esquerda do rio destacam-se no posicionamento táctico
em batalhas, na descrição de Damião de Góis, alguns dos principais nobres
do reino: os condes da Feira, de Vila Real, de Monsanto e de Faro, além dos
homens afectos ao ducado de Guimarães (senhorio do então primogénito da
casa de Bragança, D. Fernando) . De facto, por esse tempo, algumas destas
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casas nobres conseguiam mobilizar hostes de dimensão considerável: já vimos
que em 1449 o infante D. Pedro, duque de Coimbra, foi capaz de conduzir
cerca de 5000 homens até ao Vale de Alfarrobeira (ainda que contasse com um
ou outro aliado de peso a engrossar os seus homens, Álvaro Vaz de Almada,
conde de Avranches); da mesma forma, em 1461, D. Fernando, primogénito
do duque de Bragança, conseguiu mobilizar à sua conta, para “acrecentar
em sua honrra”, 1000 homens de pé e 200 de cavalo para uma cavalgada em
Marrocos, com o Rui de Pina a salientar a despesa que este nobre fez para o
transporte das montadas .
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De facto, como explicou António Dias Farinha, o Norte de África abriu
um espaço de valorização económica e social aos portugueses , o que foi
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especialmente caro à nobreza. É paradigmático o caso de D. Pedro de Meneses,
que se oferece para primeiro capitão de Ceuta após a sua conquista, em
1415 . Membro de uma nobreza que combatera do lado castelhano, o alferes
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do infante D. Duarte aproveita o exigente lugar para uma reconciliação plena
69 PINA, Rui de – “Crónica de D. Afonso V” in Ob. Cit., cap. CLXXIV, p. 830.
70 GÓIS, Damião de – Chronica do Prinçipe Dom Ioam. Ed. crítica e comentada de Graça de Almeida
Fernandes, Universidade Nova, Lisboa, 1977, cap. LXXVII, p. 163.
71 PINA, Rui de – “Crónica de D. Afonso V” in Ob. Cit., cap. CXLV, p. 794.
72 FARINHA, António Dias – Os Portugueses em Marrocos edição revist Institut
7.
73 ZURARA E Crónica de D. Pedro de Meneses. Apresentação de J. A. De Freitas
Carvalho. Porto: Programa Nacional de Edições Comemorativas dos Descobrimentos Portugueses,
1988, livro 1, cap. V, pp. 25-28.
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