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3. Entre a Hispânia e o Norte de África (1415-1495)

               com a Coroa que, em 1424, o fará conde de Vila Real , após vários êxitos na
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               defesa da cidade do Estreito, como foram os casos dos cercos de 1418 e 1419.
                     De facto, o lugar de capitão de uma praça, geralmente confiada a um nobre,
               caracterizava-além das prerrogativas de governo e de justiça pelos incentivos às
               almogavarias. Em 16 de Julho de 1445, ao nomear o conde de Arraiolos capitão
               de Ceuta, o regente D. Pedro, em nome de D. Afonso V, incentivava as acções
               contra o inimigo ao “aja os quintos cavalgadas e pressas do mar e de terra” .
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               De  facto,  essas  almogavarias  motivaram  a  ida  para  as  praças  norte-africanas
               de muitos nobres, como atesta a documentação, que se faziam acompanhar
               das respectivas comitivas. Conhecemos, por exemplo, a carta de quitação de
               D. Afonso V a favor de Gonçalo Pacheco, tesoureiro-mor das coisas de Ceuta,
               sobretudo na parte relativa ao ano de 1454: aqui se dá conta de um pagamento
               feito a Álvaro de Sousa, mordomo-mor e membro do conselho do rei, relativo ao
               “soldo e mantimento”(incluía trigo, vinho, carne e outros géneros) adiantados
               de três meses para si, 12 escudeiros, 1 pajem, 40 besteiros, 6 moços e, como se
               não bastasse, 15 cavalos que consigo levou para a cidade do Estreito !
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                     Embora  por  vezes  os  historiadores  tendam  a  acentuar  a  perda  de
               importância das montadas na guerra, a verdade é que a cavalaria foi marcante
               nas operações no Norte de África, especialmente as levadas a cabo pelos fidalgos.
               Nos primeiros tempos em Ceuta, privados de montadas, os nobres sentiram-se
               “como peixe fora de água” , visto não poderem contar com a velocidade, o
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               poder de choque e a segurança que um bom cavalo lhes garantia, inclusivamente
               na hora da retirada. Daí que numa das primeiras acções fora da praça, na Crónica
               do Conde D. Pedro de Meneses, o capitão, com algumas dezenas de homens de
               pé, teve a preocupação de poupar os cavalos árabes dos mouros de Fez para os
               capturar – nesta primeira investida o próprio Abu só escapou porque houve a
               preocupação de lhe pouparem o cavalo . Bastante complicada de gerir era a
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               questão da angariação e envio de cavalos para Ceuta. Como vimos, estes animais
               rarearam quase sempre na cidade, e os reis tinham de se socorrer muitas vezes

               74  A respeito do trajecto de D. Pedro de Meneses, leia-se: CAMPOS, Nuno Silva – D. Pedro de
               Meneses e a construção da Casa de Vila Real (1415-1437). Lisboa: Edições Colibri, 2004.
               75  FARINHA, António Dias – Portugal e Marrocos no Século XV. Tese de Doutoramento em História
               pela Universidade de Lisboa. Vol. 2. Lisboa: não publicada, 1990, doc. 46, p. 159.
               76  Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de D. Afonso V, livro 1, fl. 82.
               77  MONTEIRO, João Gouveia, COSTA, António Martins, 1415 – A conquista de Ceuta, pp. 113-114.
               78  ZURARA, Gomes Eanes de – Crónica do Conde D. Pedro de Meneses, livro 1, cap. XXII, pp. 70-72.
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