Page 128 - recrutamento
P. 128

RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            do estrangeiro para suprir essa lacuna. Logo em 1419, D. João I solicitou ao rei
            de Aragão, seu sobrinho, uma “carta de saca” para poder tomar cavalos na Sicília
            (uma ilha que estava então sob o controlo aragonês), onde lhe constava haver
            muitas montadas de qualidade e que lhe poderiam ser bastante úteis na guerra
            contra os mouros de África .
                                    79


                  Os homens dos concelhos
                  os aquantiados
                  Ao nível municipal destacava-se o grupo dos aquantiados, que provinha
            do  universo  dos  moradores  do  reino  que  mantinham  casa  própria  (fossem
            casados ou solteiros), exceptuando-se os que eram clérigos beneficiados, os
            cavaleiros,  os escudeiros vassalos do rei e os escudeiros reconhecidos por
            carta régia como sendo fidalgos do lado do pai e da mãe. Na génese, este
            grupo  provinha  da  antiga  cavalaria  vilã  –  o  antigo  “cavaleiro  de  foro”  será,
            aos poucos, substituído pelo “cavaleiro de quantia”. Afinal, era em função da
            quantia de bens (móveis e imóveis) que estes homens eram integrados numa
            certa categoria militar que obrigava a possuir dadas armas (e, no caso dos
            mais abastados, também um cavalo), com que deveriam servir o rei quando
            convocados .
                       80
                  No topo da cadeia de comando destes combatentes estava o coudel-mor,
            oficial do rei a quem eram enviados os cadernos com o registo dos aquantiados
            das várias coudelarias do reino. Nestas, a avaliação dos bens era feita por um
            coudel  local,  tendencialmente  de  nomeação  régia,  o  qual  seria  coadjuvado
            geralmente por um ou dois homens bons, que conheciam o espaço e as gentes
            de perto – coube, de resto, ao infante herdeiro D. Duarte, em 1418, quando
            já estava associado ao governo do reino, o estabelecimento de normas e de
            procedimentos  a  que  devia  obedecer  esta  avaliação  de  bens .  Jurada  a
                                                                        81
            obediência dos avaliadores perante o poder municipal, prometendo proceder
            com justiça na tarefa, estes deveriam ser substituídos todos os anos para evitar
            abusos. Sempre que alguém se sentisse lesado pelos avaliadores ou visse a sua


            79  Monumenta Henricina  V    Dir      organizaç    Ant        Coimbr
              Executiv    Comemoraç      Cent    Mort    Infant  D    1960-
            -1974, doc. n.º 151, pp. 308-309.
            80  MONTEIRO, João Gouveia – A guerra em Portugal nos finais da Idade Média, p. 44.
            81  IDEM – Ibidem, p. 44.
              116
   123   124   125   126   127   128   129   130   131   132   133