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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
do estrangeiro para suprir essa lacuna. Logo em 1419, D. João I solicitou ao rei
de Aragão, seu sobrinho, uma “carta de saca” para poder tomar cavalos na Sicília
(uma ilha que estava então sob o controlo aragonês), onde lhe constava haver
muitas montadas de qualidade e que lhe poderiam ser bastante úteis na guerra
contra os mouros de África .
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Os homens dos concelhos
os aquantiados
Ao nível municipal destacava-se o grupo dos aquantiados, que provinha
do universo dos moradores do reino que mantinham casa própria (fossem
casados ou solteiros), exceptuando-se os que eram clérigos beneficiados, os
cavaleiros, os escudeiros vassalos do rei e os escudeiros reconhecidos por
carta régia como sendo fidalgos do lado do pai e da mãe. Na génese, este
grupo provinha da antiga cavalaria vilã – o antigo “cavaleiro de foro” será,
aos poucos, substituído pelo “cavaleiro de quantia”. Afinal, era em função da
quantia de bens (móveis e imóveis) que estes homens eram integrados numa
certa categoria militar que obrigava a possuir dadas armas (e, no caso dos
mais abastados, também um cavalo), com que deveriam servir o rei quando
convocados .
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No topo da cadeia de comando destes combatentes estava o coudel-mor,
oficial do rei a quem eram enviados os cadernos com o registo dos aquantiados
das várias coudelarias do reino. Nestas, a avaliação dos bens era feita por um
coudel local, tendencialmente de nomeação régia, o qual seria coadjuvado
geralmente por um ou dois homens bons, que conheciam o espaço e as gentes
de perto – coube, de resto, ao infante herdeiro D. Duarte, em 1418, quando
já estava associado ao governo do reino, o estabelecimento de normas e de
procedimentos a que devia obedecer esta avaliação de bens . Jurada a
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obediência dos avaliadores perante o poder municipal, prometendo proceder
com justiça na tarefa, estes deveriam ser substituídos todos os anos para evitar
abusos. Sempre que alguém se sentisse lesado pelos avaliadores ou visse a sua
79 Monumenta Henricina V Dir organizaç Ant Coimbr
Executiv Comemoraç Cent Mort Infant D 1960-
-1974, doc. n.º 151, pp. 308-309.
80 MONTEIRO, João Gouveia – A guerra em Portugal nos finais da Idade Média, p. 44.
81 IDEM – Ibidem, p. 44.
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