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3. Entre a Hispânia e o Norte de África (1415-1495)

                     Ao  longo  do  século  XV,  de  acordo  com  João  Gouveia  Monteiro,  a
               Coroa chegou a contar neste grupo com cerca 10 000 homens minimamente
               adestrados  para  a  guerra,  equipados  com  armas  afiadas  e  sem  empenos  e
               com cavalos em condições de combater . Conhecemos a sua participação nas
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               campanhas, apesar da omissão dos cronistas, cuja mentalidade cavaleiresca
               tende  a  conferir  destaque  à  nobreza.  Na  Península  Ibérica  sabemos  da
               participação  na  Batalha  de  Toro  dos  aquantiados,  boa  parte  dos  quais,
               apeados, com a ingrata missão evitar o flanqueamento do exército de junto ao
               Douro, onde acabaram encurralados e a fugir em debandada . No Norte de
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               África, sabemos da sua importância nas guarnições, onde a sua participação
               seria expressiva – como vimos, no regimento da defesa de Tânger de 1472
               representaria 37 % (184 combatentes) dos defensores. A sua importância na
               defesa das praças – não por acaso, na primeira guarnição de Ceuta – que,
               entre a primeira guarnição de Ceuta, se contam cerca de 100 arnesados de
               Lisboa, às ordens de Fernão Barreto, na defesa do sector da Almina . Mas
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               também nas acções de campanha, quer para conduzir o gado e os prisioneiros
               no regresso das almogavarias, quer para proteger ou secundar os cavaleiros
               nos ataques – o rei D. Afonso V dispensou-os na incursão à Serra de Benacofu,
               a meio da operação, e pagou-o caro quando foi surpreendido pelos mouros e
               se viu forçado a retirar num terreno íngreme e apertado para as montadas .
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                     Velhos atiradores: os besteiros
                     Com origem no reinado de D. Dinis, o corpo dos besteiros do conto foi
               ganhando forma por todo o reino durante os governos de D. Afonso IV e de D.
               Pedro I. Tirando partido da boa tradição municipal dos atiradores com besta,
               transformou-se numa força regular, devidamente equipada e adestrada para a
               guerra, que na viragem para o século XV, com D. João I, passou a receber um
               soldo de campanha apetecível .
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               90  IDEM – História Militar de Portugal, p. 170.
               91  COSTA, António Martins – A Batalha de Toro…, pp. 118-122.
               92  ZURARA, Gomes Eanes de – Crónica do Conde D. Pedro de Meneses. Livro 1. Cap. VI, pp. 29-31.
               93  IDEM – Crónica do Conde D. Duarte de Meneses. Lisboa: Universidade Nova, 1978, cap. CLIIII,
               pp. 350-356.
               94  MONTEIRO, João Gouveia – Nova História Militar de Portugal. Vol 1, p. 197.
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