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3. Entre a Hispânia e o Norte de África (1415-1495)

                     Sabemos, no entanto, que este corpo se vai definindo. As Ordenações
               Afonsinas , de meados do século XV, prevêem que o monarca encomende o
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               seu corpo a 20 cavaleiros ou escudeiros da sua criação, seguindo-o de noite e de
               dia. De acordo com a mesma fonte, os seus homens deveriam andar armados de
               cotas, barretas, braçais, lanças e espadas, às ordens de um fidalgo ou cavaleiro
               em que o rei tivesse confiança. Temos conhecimento que, em 1450, D. Afonso V
               nomeia Gonçalo Rodrigues de Sousa, a troco de uma tença anual de 10.000 reais
               brancos, “capitão-mor dos ginetes do rei” . Tratava-se, pois, de uma guarda real
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               a cavalo, que sabemos ter estado presente junto do soberano nas principais
               campanhas, como as Batalhas de Alfarrobeira e de Toro.
                     De  facto,  a  participação  da  guarda  dos  ginetes  foi  particularmente
               expressiva na Guerra da Sucessão de Castela. Na Crónica de D. Afonso V  este
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               corpo  é  especialmente  enfatizado  na  invasão  do  reino  vizinho,  em  Maio  de
               1475, quando o monarca conduz a coluna que parte de Arronches. Rui de Pina
               descreve-nos como após o adail e dos seus batedores e o marechal Fernando
               Coutinho,  nas  suas  funções  de  aposentador,  seguia  a  batalha  real  com  as
               bandeiras desfraldadas. Era aí que se encontrava a guarda montada dos “genetes
               d’El Rey”, às ordens de Vasco de Sousa Chichorro, os quais seguiam o monarca
               quando saía do seu corpo para acompanhar os demais contingentes, segundo
               o mesmo cronista . Terá sido graças aos cavaleiros deste corpo que, a 1 de
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               Março de 1476, D. Afonso V conseguiu retirar-se em segurança da Batalha de
               Toro, quando se encontrava com a sua az completamente desorganizada, para
               se acolher no castelo vizinho de Castro Nuño .
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                     Mas seria com D. João II que se daria nova escala ao corpo de guarda,
               sobretudo após as ameaças a que esteve sujeito da parte da alta nobreza.  Foi no
               início do reinado do Príncipe Perfeito, pelo começo da década de 1480, que se
               deram os passos decisivos no sentido da sua regulamentação com a “Ordenação
               da guarda delRej nosso senhor”, que estipulava que o monarca andasse com 60
               lanças; pouco mais tarde, na sequência da conspiração contra o monarca pelo


               56  Ordenações Afonsinas. Livro 1, título LI, p. 287.
               57  MONTEIRO, João Gouveia – A guerra em Portugal nos finais da Idade Média. Lisboa: Editorial
               Notícias, 1998, p. 28.
               58  PINA, Rui de – “Crónica de D. Afonso V” in Crónicas de Rui de Pina, cap. CLXXVII, p. 832.
               59  IDEM – Ibidem, cap. CLXXVII, p. 832.
               60  COSTA, António Martins – A Batalha de Toro…, p. 121.

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