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3. Entre a Hispânia e o Norte de África (1415-1495)

               cálculos da investigação devam apoiar-se ainda em análises de outra natureza :
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               da  documentação  de  arquivo  à  epistolografia;  da  dimensão  dos  campos  de
               batalha à extensão das colunas de marcha; por fim, pelo tamanho das praças ou
               dos castelos guarnecidos.
                     Mas  ainda  que  os  dados  que  conseguimos  recolher  não  passem  de
               estimativas  aproximadas,  tudo  indica  que  o  reino  português  acompanhou  a
               tendência  crescente  dos  exércitos  europeus  de  Quatrocentos,  destacando-se
               inclusivamente,  em  proporção,  face  a  outras  a  potências  militares  de  maior
               dimensão, como Castela ou França. De resto, a monarquia da flor-de-lis, com
               uma superfície 350 000 km2 e perto de 10 000 000 de pessoas, dispunha em
               meados do século XV, de uma massa de 80 000 homens directamente ao serviço
               da  guerra,  metade  de  combatentes  e  outra  metade  de  não-combatentes.  À
               mesma média, Portugal deveria reunir cerca de 12 000 homens (dos quais 6 000
               apenas seriam combatentes) – mas, como veremos, quer-nos parecer que os
               reuniu realmente e por diversas vezes; e até mais do que isso !
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                     Projectando  um  olhar  sobre  as  grandes  campanhas  da  monarquia
               portuguesa do período que aqui tratamos, conseguimos identificar: para Ceuta,
               em 1415, D. João I mobilizou perto de 18 000 homens ; acerca da campanha de
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               Tânger, em 1437, embora se previsse um efectivo de 14 000 homens, somente
               embarcaram 8000 ; em 1449, a hoste régia de D. Afonso V avançou para o Vale
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               de Alfarrobeira com 16 000 homens, contra uns 4000 do infante D. Pedro ; na
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               conquista de Arzila, em 1471, D. Afonso V terá reunido perto de 20 000 ; na
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               Guerra da Sucessão de Castela, em 1475, o Africano entra aparatosamente em
               Castela com 19 600 homens .
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                     A  maior  capacidade  de  mobilização  resultava  do  reforço  do  poder
               real  tardo-medieval,  que  deitava  mão  a  mais  recursos  (pedidos  em  Cortes,
               empréstimos,  tributações,  entre  outros),  ao  mesmo  tempo  que  o  exército




               37  MONTEIRO, João Gouveia – Nova História Militar de Portugal. Vol. 1, p. 204
               38  IDEM – Ibidem, p. 204.
               39  MONTEIRO, João Gouveia, COSTA, António Martins, 1415 – A conquista de Ceuta, p. 40
               40  MONTEIRO, João Gouveia – História Militar de Portugal, p. 152.
               41  IDEM – Ibidem, p. 155.
                 DIAS, Paulo – A conquista de Arzila pelos Portugueses – 1471, pp. 17-18.
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                 COSTA, António Martins – A Batalha de Toro…, p. 105.
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