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3. Entre a Hispânia e o Norte de África (1415-1495)
Em meados de Fevereiro de 1476, o príncipe é recebido em jubilo em Toro,
com os ansiados reforços. D. Afonso V e D. João decidem instalar arraial a sul da
ponte de Zamora, procurando causar constrangimento a Fernando de Aragão,
que naquela cidade cercava o castelo – o último reduto dos “joanistas”. Porém,
ao longo de duas semanas, a posição junto ao convento de S. Francisco não só
se revelou ineficaz contra Fernando de Aragão como se tornou um pesadelo
para as tropas lusas, num autêntico atoleiro de lama e cada vez mais privadas de
mantimentos, cujas colunas eram atacadas pelos castelhanos .
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Assim, na madrugada de 1 de Março, D. Afonso V e D. João levantaram o
arraial. Perseguidos pelas tropas de Fernando, foram alcançados ao fim da tarde
numa planície a escassa distância de Toro, próximo do lugar de Peleagonzalo.
Talvez equivalendo-se em número (quase 10 000 efectivos cada), com ligeira
vantagem castelhana, as hostes devem ter adoptado uma ordem de batalha
em que se encaixavam. Do lado português, dois grandes núcleos de batalhas:
à direita, mais próxima do rio, uma batalha maior, às ordens do rei; à esquerda,
mais perto da serra, uma az comandada pelo príncipe, “de menos gente, porém
mui cortesã e muy limpa” . Pese o êxito das tropas de D. João, cuja acção de
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espingardeiros e besteiros foi seguida de uma carga dos homens de armas
desbaratou os homens na sua frente, a batalha de D. Afonso V não resistiu
aos tiros das espingardas e ao ataque avassalador dos cavaleiros do corpo da
bandeira real de Fernando, o Católico. O rei português retira para o castelo
vizinho de Castro Nuño, Fernando de Aragão deixa o comando do seu exército ao
cardeal e ao duque de Alba e abandona o campo de volta a Zamora e o príncipe
D. João, após algumas horas no campo, regressa em vitória a Toro .
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A sorte das armas tardava a sorrir a D. Afonso V, que continuou em Castela
de fracasso em fracasso até meados de 1476. Igualmente sem sorte, embarcou
com destino a França para durante um ano tentar, em vão, o compromisso de
Luís XI com uma aliança militar. Entretanto, o desgaste do conflito na fronteira
luso-castelhana e a guerra naval no Atlântico levariam à assinatura do Tratado de
Alcáçovas-Toledo, em que pela primeira vez os reinos ibéricos a reconheceram
áreas de influência próprias no Mar-oceano.
IDEM – Ibidem, pp. 115-116.
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33 PINA, Rui de – “Crónica de D. Afonso V” in Crónicas de Rui de Pina. Introd. e Rev. M. Lopes De
Almeida. Porto: Lello & Irmäo, 1977., cap. CXC, p. 844.
COSTA, António Martins – A Batalha de Toro…, pp. 121-122.
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