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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            derrubar as resistências no castelo e na mesquita (convertida em igreja, na
            qual o príncipe D. João, que se estreava nas armas, foi armado cavaleiro). Ao
            final do dia, contavam-se do lado português perdas de vulto, como os condes
            de Marialva e de Monsanto, embora os mouros tenham sofrido, entre mortos
            e feridos, cerca de 2000 baixas e sido capturadas 5000 pessoas. Entretanto, D.
            Afonso V foi informado do abandono de Tânger pelos seus habitantes, agora
            entre duas praças lusas (Alcácer-Ceguer e Arzila). É então enviado o marquês
            de Montemor, D. João, com uma força para ocupar, sem resistência, a fortaleza
            tão ansiada pelos portugueses, agora com quatro castelos em África. Daí em
            diante, D. Afonso V intitular-se-ia “Rei de Portugal e dos Algarves” .
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                  Na última etapa do seu reinado, o Africano ainda alimentou o sonho
            ibérico  com  uma  grande  campanha  peninsular.  Em  finais  de  1474,  morto
            Henrique IV de Castela, D. Afonso V dispôs-se a casar com a filha do anterior
            e sua sobrinha, D. Joana, para defender os seus direitos reais. Com o apoio de
            alguns senhores castelhanos, levantava armas contra Isabel, a Católica, meia-
            -irmã do defunto monarca e mulher do príncipe Fernando de Aragão. Em Maio
            de 1475, partindo de Arronches, o rei português entrou em Castela à frente
            de uma grande hoste – 5600 cavaleiros, 14 000 peões e boa artilharia, no dizer
            dos cronistas portugueses. Celebrado o casamento e a aclamação real junto de
            D. Joana, em Plasência, D. Afonso V passou a conduzir uma campanha no vale
            do Douro: Zamora abriu-lhe as portas, Toro rendeu-se ao fim de semanas de
            cerco com artilharia, Baltanás foi tomada à viva força e Cantalapiedra assaltada
            com uma escalada nocturna .
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                  Mas  D.  Afonso  V  hesitava  em  internar-se  em  Castela,  recusando-
            -se a socorrer Burgos ou a região de Madrid, para desespero de apoiantes
            castelhanos. O rei sentia-se mais seguro em invernar próximo de Portugal, em
            Zamora. Porém, os incidentes far-se-iam sentir: uma das torres da ponte desta
            cidade planeia uma traição. Após um cerco sem sucesso, o rei transfere-se
            para Toro com D. Joana, enquanto em Portugal D. João mobiliza uma hoste de
            reforço no meio de grandes dificuldades de recrutamento e de financiamento.



            30  MONTEIRO, João Gouveia – História Militar de Portugal, p. 157.
            31  COSTA, António Martins – A Batalha de Toro e as relações entre Portugal e Castela: dimensões
            políticas e militares na segunda metade do século XV. Dissertação de mestrado em História Medie-
            val apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Lisboa: [não publicada], 2011,
            pp. 112-113.
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