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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
derrubou um troço de muralha ao primeiro tiro e levou os muçulmanos à
rendição. O rei permaneceu na praça para o seu reforço e para a nomeação
de um seu capitão, cuja escolha veio a recair num experiente “fronteiro” que
passara a juventude a combater em África: D. Duarte de Meneses, filho de D.
Pedro, primeiro capitão de Ceuta .
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Mas Tânger não saía da mira da Coroa e, em 1463, D. Afonso V regressou
a Marrocos. Porém, quase tudo correu mal: a frota partiu de Lisboa quase no
Inverno, o rei insistiu em atravessar o Estreito de Gibraltar ao sabor de uma
tempestade e os navios foram chegando a Ceuta desgarrados e os homens em
péssimas condições. A guarnição de Tânger apercebeu-se do ataque e preparou
a sua defesa, de tal maneira que a escalada das muralhas comandada pelo
infante D. Fernando, irmão do rei, saldou-se num desastre com 200 mortos e 100
prisioneiros, entre os quais diversos nobres. Como não queria regressar ao reino
sem salvar a face, D. Afonso V organizou uma incursão pela serra de Benacofu,
a sul de Ceuta, onde os muçulmanos tiraram partido do seu sistema de atalaias
e do arvoredo. Com os portugueses desorganizados em acções desconexas, os
inimigos surpreenderam os portugueses num terreno apertado em que, para
cobrir a retirada do rei, D. Duarte de Meneses ofereceu a sua própria vida. Como
bem resumiu Luís Miguel Duarte: “do ponto de vista militar, a armada de 1463-
-1464 foi Portugal no seu pior” .
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Mas o ciclo marroquino estava para continuar. Após o ataque que
resultou no saque e na destruição de Anafé, em 1469, pelo infante D. Fernando,
seria a vez da Coroa regressar às grandes campanhas. Em 1471, D. Afonso
V largou à conquista de Arzila, previamente espiada, com uma armada que
Rui de Pina, certamente com exagero, cifra em 477 velas e cerca de 30 000
combatentes. No dia 20 de Outubro daquele ano, a frota chegou diante de
Arzila, com os rochedos e o estado encrespado do mar a provocaram vários
naufrágios nos batéis que remavam para terra. No meio destas dificuldades, o
desembarque prolongou-se por três dias e, a muito custo, instalou-se o arraial,
protegido por um fosso profundo e munido da artilharia que foi possível trazer.
O assalto foi-se preparando a coberto do tiro de besteiros e de espingardeiros,
tendo duas bombardas pequenas acabado por destruir dois troços da muralha
26 MONTEIRO, João Gouveia – História Militar de Portugal, p. 156.
27 DUARTE, Luís Miguel, “1463-1464: A maldição de Tânger” in Nova História Militar de Portugal.
Vol. 1, pp. 426-429.
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