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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
À semelhança de outras fortalezas norte-africanas, a guarnição de
Tânger contava ainda com um adail (3600 reais), a quem cabia bater o terreno
nas saídas da praça, um alcaide (2000 reais), que governava o castelo, e um
trombeta (3600 reais), a quem cumpria os toques de aviso aos homens face aos
perigos dos muçulmanos . A praça possuía ainda uma estrutura administrativa,
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com um apontador (que no seu caderno registava todos os combatentes) um
contador, um escrivão e um porteiro dos contos; um grupo de apoio logístico,
com almoxarife do armazém, almoxarife dos mantimentos e escrivão do
almoxarifado; profissionais de saúde, como físico, cirurgião e boticário; mas
também homens dos ofícios de apoio à guerra, como ferreiro (para concerto
das armas), ferrador (para calçar as montadas), carpinteiro e pedreiro (para
a manutenção das estruturas defensivas) . Com tamanhos encargos para o
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sustento de uma praça – não por acaso se instituiu desde cedo, no Entre-Douro-
-e-Minho, o tributo dos 10 reais de Ceuta – não admira a exclamação do infante
D. Pedro, em meados dos anos de 1420, na carta que dirige ao seu irmão, D.
Duarte, para lhe dizer que a manutenção da cidade de Estreito era um “muy
bom sumydoiro de gente de uossa terra, e darmas e de dinheiro” .
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os combatentes
A guarda do rei
Um dos corpos que se foi reforçando ao longo do século XV foi a
guarda do rei. Segundo João Gouveia Monteiro, pouco depois da Batalha de
Aljubarrota – onde D. João I tomou posição à retaguarda acompanhado pelos
que pertenciam à sua guarda – o rei ordenou que passassem a andar na sua
companhia 100 besteiros para, no início de Quatrocentos, fixar um máximo
de 80 escudeiros “moradores”. Como tal, podemos concluir que a guarda, na
entrada Quatrocentos, não apresentava apenas funções palatinas mas também
de intervenção nos cenários de guerra, com um corpo permanente de besteiros
e outro de escudeiros, comandados por um guarda-mor – desde o reinado de D.
Fernando (1367) e o assumir da governação por D. Afonso V (1448) o cargo foi
ocupado pela família Melo .
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52 Ibidem.
53 Ibidem.
54 DUARTE, D. – Livro dos Conselhos de El-Rei D. Duarte (Livro da Cartuxa). Ed. Diplomática de João
José Alves Dias. Lisboa: Estampa, 1982, p. 37.
55 MONTEIRO, João Gouveia – História Militar de Portugal, pp. 172-173.
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