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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            regime próximo da “profissionalização” e com um elevado grau de prontidão
            para que pudesse ser mobilizado de forma rápida sempre que deles necessitasse.
            Estava aberto o caminho para a criação dos Besteiros do Conto.
                  As  primeiras  referências  documentais  a  esta  milícia  remontam  a  1299
            ao final do cerco de Portalegre – o último dos três conflitos armados entre D.
            Dinis e o seu irmão, o infante D. Afonso –, altura em que o rei concedeu um
            importante  conjunto  de  privilégios  aos  besteiros  –  já  designados  como  “do
            conto” – da vila alentejana de Serpa, recompensando-os pela forma destacada
            como participaram nesse cerco. Não se trata propriamente de uma carta de
            privilégios, mas sim de um conjunto de três cartas todas elas datadas do dia 24
            de Outubro de 1299 , circunstância que, desde logo, revela alguma incipiência
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            –  alguma  indecisão,  diríamos  mesmo  –  no  estabelecimento  dos  privilégios  a
            conceder. E isso sugere a inexistência, até esse momento, de qualquer modelo
            que servisse de base para a atribuição deste tipo de diplomas. Ou seja, tudo
            leva a crer que essas três cartas foram as primeiras que a Coroa outorgou aos
            besteiros do conto. A estas três somaram-se outras cinco, uma de 1304, outra de
            1309 e ainda outra de 1313, bem como uma outra, não datada, mas atribuível
            a  D.  Dinis,  e  ainda  uma  carta  de  privilégios  concedida  aos  besteiros  –  ainda
            não do conto – de Serpa por D. Beatriz, viúva de Afonso III, em 1282, as quais
            constituíram a base para o estabelecimento do primeiro conjunto de privilégios
            dos besteiros do conto.
                  Desta vila Alentejana, todas as regalias inseridas nessas oito cartas terão
            sido integralmente transmitidas aos besteiros do conto de Alcáçovas, em 1320,
            tendo, neste mesmo ano, passado também a ser utilizados pelos de Alcácer do
            Sal, passando então para os de Palmela, em 1322, para os de Ribatejo – um
            concelho constituído pelas localidades de Montijo, Samouco, Lançada, Sarilhos,
            Alcochete, Aldeia Galega e cuja sede paroquial era na povoação de Sabona –, em
            1323, e, por fim, já durante reinado de Afonso IV, em finais de 1325, para os de
            Lisboa . Para além destas localidades, os privilégios conferidos aos besteiros do
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            conto de Serpa foram também, até meados de 1322, concedidos aos de Moura e,
            em Julho deste ano, aos de Almodôvar. Por essa altura, D. Dinis concedeu também
            carta de privilégios – segundo o “modelo de Serpa” – aos besteiros do conto de



            73  Livro  dos  Pregos.  Estudo  introdutório,  transcrição  pelaográfica,  sumários  e  índices.  Lisboa:
            Arquivo Municipal de Lisboa, 2016, doc. 99, pp. 217-222, de 1340, Abril, 7.
            74  Livro dos Pregos, doc. 99, pp. 217-222, 1340, Abril, 7.
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