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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
então, a ser integrados, dados que deveriam, depois de feita uma cópia que
ficava na posse das autoridades municipais, ser enviados para o rei . Avaliados
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os bens, procedia-se então ao somatório dos seus valores e, em função do
total estimado, à inclusão do indivíduo numa das categorias socio-militares e
ao estabelecimento de um prazo – variável conforme a circunstância e o tipo
de armamento a adquirir – durante o qual deveriam comprovar, perante o
concelho, a sua aquisição ou posse e ainda, no caso dos cavaleiros, da montada
que, a partir de então, ficavam obrigados a possuir. Caso não o fizessem ficavam
sujeitos a uma pena de prisão e ao confisco da totalidade dos seus bens .
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Concluído o aquantiamento, os novos peões e cavaleiros ficavam, à
semelhança de todos quantos haviam sido apurados nos anos anteriores,
obrigados a exibir regularmente as suas armas e, em alguns casos, as montadas
que, a partir de então, eram obrigados a possuir. Para isso realizavam-se alardos,
isto é, mostras colectivas onde cavalos e armamento eram – pelo menos, em
teoria – cuidadosamente inspeccionados pelas autoridades concelhias e, mais
tarde, pelos coudéis, que assim se certificavam da sua qualidade e bom estado
de conservação.
Ainda que recuperados pela legislação de D. Dinis a que nos temos vindo
a referir, estes alardos também não constituíam uma novidade. Eram, isso sim,
a adaptação de um modelo já existente, se bem que algo esquecido e caído
em desuso com o final da Reconquista, que previa a inspecção das forças dos
concelhos durante os meses de março e de setembro, ou seja, antes e depois
das campanhas militares que, por norma, tinham lugar entre a Primavera e o
Verão. Os alardos gerais, em que todos os peões e cavaleiros eram obrigados a
comparecer, passariam, assim, a ter lugar uma vez por ano, habitualmente na
semana seguinte ao Pentecostes, isto é, cerca de dois meses depois da Páscoa.
Por finais de agosto ou em setembro realizar-se-ia um segundo alardo, mas
destinado apenas às forças de cavalaria, podendo ainda, em certos casos, ser
realizado um terceiro .
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Estas inspecções, muito em especial as que tinham lugar na Primavera,
conseguiam reunir, sobretudo em localidades de grande dimensão como Lisboa,
Porto, Coimbra, Évora ou Santarém, um número impressionante de combatentes,
61 MARTINS, 2014, pp. 103-104.
62 MARTINS, 2014, pp. 112-117.
63 MONTEIRO, 1998, p. 55.
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