Page 137 - recrutamento
P. 137

3. Entre a Hispânia e o Norte de África (1415-1495)

               já que sabemos que, a 12 de Novembro de 1471, D. Afonso V passou carta de
               brasão de armas a António Leme, cavaleiro da casa do príncipe D. João, por ter
               vindo da Flandres com espingardeiros numa urca, na expedição que resultou na
               conquista de Arzila e Tânger, em 1471 .
                                                 112
                     Seria preciso esperar pelo reinado de D. João II para o desenvolvimento
               da  nova  milícia,  que  ao  que  tudo  indica  conheceu  uma  organização  interna
               semelhante àdos besteiros do conto na origem geográfica, social e na formação
               das cadeias de comando (sob a autoridade de um anadel-mor e, abaixo deste,
               de outros tantos anadéis). Porém, na questão do recrutamento existem algumas
               diferenças,  dado  que,  a  par  do  recrutamento  “semiprofissional”  realizado
               nos concelhos o rei reforçava o contingente de espingardeiros com membros
               profissionalizados que recebiam uma tença anual; no que toca aos privilégios,
               salienta-se  o  facto  de  os  espingardeiros  possuírem  a  isenção  da  jugada,  à
               excepção da do pão, regalia essa perdida pelos besteiros do conto ainda sob
               o governo de D. João I. De facto, o governo do Príncipe Perfeito foi um período
               importante na afirmação desta milícia quanto à definição das suas componentes
               jurídicas e do aumento do seu número – de acordo com o estudo de Pedro
               Sebastião , conhecem-se 416 cartas de privilégio entre 1481 e 1495!
                        113


                     a contas com a justiça do rei: os homiziados
                     Desde os finais da I Dinastia que a monarquia portuguesa contava na sua
               hoste com grupos de criminosos e de marginais. Como bem demonstrou João
               Gouveia  Monteiro,  durante  os  meses  apertados  crise  de  1383-1385,  D.  João
               recorreu em Lisboa e um pouco por todo o reino a tantos que tinham cometido
               mortes  ou  malefícios .  Mas  este  princípio  de  comutar  penas  em  troca  de
                                   114
               serviço militar àqueles que se encontravam a contas com a justiça do rei estava
               para continuar no século XV.

                     De facto, nas grandes campanhas peninsulares foi expressiva na hoste régia
               a participação dos homiziados, os quais, pese a omissão das crónicas, podemos
               encontrar  na  documentação.  Segundo  o  estudo  já  aqui  citado  de  Humberto


                  Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de D. Afonso V, liv. 21, fol. 90, doc. 1.
               112
               113  SEBASTIÃO, Pedro – Os espingardeiros. Um corpo militar no alvor da Modernidade (1437-
               -1495). Dissertação de mestrado na especialidade de Idade Média apresentada à Faculdade de
               Letras da Universidade de Coimbra. Coimbra: não publicada, 2018.
                  MONTEIRO, João Gouveia – Nova História Militar de Portugal. Vol. 1, p. 204.
               114
                                                                                  125
   132   133   134   135   136   137   138   139   140   141   142