Page 141 - recrutamento
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recrutamento mIlItar no
s É C U L o X V I P o R t U g U ê s :
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De UM sIsteMa (1495-1578) 1
1 Gonçalo Couceiro Feio 2
Sem herdeiro directo, D. João II dispôs, por testamento, a entrega da
coroa a seu primo direito e cunhado D. Manuel. A subida ao trono do Duque de
Beja é marcada por uma acção consciente e deliberada de mudança, de início
de uma nova era. Decidido a romper com grande parte da política interna do
seu antecessor, e mesmo contrariando algumas das disposições testamentárias,
D. Manuel inicia de imediato um processo de apaziguamento das grandes
casas senhoriais do reino, sobretudo do restabelecimento da casa de Bragança.
No espaço de 7 anos, entre 1495 e 1502, celebra cortes quatro vezes, não
só para tratar de questões da sucessão do reino e sua preparação para uma
eventual integração numa monarquia peninsular, mas para começar a introduzir
discretas, mas significativas alterações nos assuntos da gestão corrente do reino
e senhorios. Reinado prolixo e intenso, nele se consumará uma das maiores
reformas administrativas da renascença portuguesa, consignada na sua política
foralenga e na criação de instrumentos jurídicos e institucionais que marcarão o
império português por séculos.
São de particular importância, para o assunto que aqui desenvolvemos,
as cortes de Lisboa de 1498. Aqui, D. Manuel põe fim às formas tardo-medievais
de recrutamento militar, de peões, besteiros e cavaleiros. Até os espingardeiros,
1 Ao Coronel José António Madeira de Athayde Banazol, português de lei, cavaleiro de sempre.
Centro de História da Universidade de Lisboa. E-mail: gcfeio@yahoo.com
2
O autor não utiliza o novo acordo ortográfico.
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