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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            as opções estratégicas dos protagonistas e dos decisores. Em boa verdade, a
            relação entre os dois campos de conhecimento é bem mais diversa, começando
            pela caraterística, que partilham, de não serem consensuais a extensão e limites
            de cada um. O conceito de história, não estando estabilizado, remete-nos para
            uma área pouco estruturada e bastante permeável a ciências vizinhas que delas
            necessita para se construir.  Por seu turno, a estratégia, hoje já bem afastada das
            conceções horizontais anteriores à Segunda Guerra Mundial (que a colocavam
            a par da política, por exemplo) e alargada a muitas outras esferas para além
            dos assuntos militares, debate-se com questões relacionadas com a dicotomia
            concetualização-operacionalização.

                  Em todo o caso, ambas se intersetam constantemente. Se a estratégia
            necessita do passado para se construir, por seu lado a história serve-se das
            teorizações  da  estratégia  para  delas  formular  modelos  que  lhe  permitam
            analisar  o  passado.  A  organização  da  presente  obra  em  períodos,  permite
            observar,  capítulo  a  capítulo,  conjunturas  específicas  e  o  seu  reflexo  na
            atividade de recrutamento e mobilização. Mas o conjunto da obra constitui
            um repositório sobre o assunto, no âmbito da longue durée, preconizada pela
            Escola dos Annales.
                  A  presença  da  história  na  estratégia  é  verdadeiramente  materializada
            pelos contributos que a primeira oferece à segunda. Usando uma conhecida
            teorização da estratégia quanto ao desenvolvimento e aplicação da força militar,
            o recrutamento e a mobilização constituem um assunto da área da estratégia
            genética. Conhecer bem as opções nacionais no tempo longo, permitindo um
            bom ponto de partida para a identificação de constantes e variáveis, abre-nos o
            campo de visão para o leque de opções que se colocam a Portugal.

                  Recrutar e mobilizar são atividades essenciais na conceção da estratégia
            para  prevalecer  na  guerra,  embora  nem  sempre  quem  tem  a  máquina  de
            recrutamento  mais  eficaz  seja  aquele  que  prevaleça.  No  entanto,  temos
            uma  certeza:  quem  não  tem  sucesso  a  recrutar  não  consegue  ter  os  meios
            necessários para vencer. Cada período é único, e o que atualmente vivemos
            não tem comparação com nenhum outro período da História. O fenómeno da
            guerra em cada momento, que é a situação mais exigente para qualquer militar
            que  nela  participe,  tem  características  próprias  muito  diferentes  das  que  se
            evidenciaram em outros períodos. As exigências da guerra atual, patentes no
            tipo de violência exercida pelos combatentes, os equipamentos e armamentos
            de  alta  tecnologia,  na  descentralização  da  execução  ou  nas  necessidades


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