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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

                  A Revolução Francesa desencadeou uma resposta militar coletiva de boa
            parte das monarquias europeias, que se traduziu, para Portugal, na participação
            na  campanha  do  Rossilhão  (1793-1795).  Seguiu-se  a  invasão  e  Portugal  de
            1801, conhecida por Guerra das Laranjas e, em 1807, a invasão de Junot, que
            desmobilizou completamente o Exército, tendo enviado os melhores quadros
            e  tropas  para  o  serviço  de  Napoleão,  numa  unidade  designada  por  Legião
            Portuguesa. A formidável reabilitação do Exército – transformando em anglo-
            -luso  –  e  a  edificação  de  uma  instituição  que,  entre  1809  e  1814  combateu
            eficazmente os franceses, na Guerra Peninsular, remetendo-os para norte dos
            Pirenéus, deveu-se essencialmente a Forjaz, Beresford e Wellington.

                  A derrota de Napoleão em Waterloo não significou o fim da disseminação
            das ideias da revolução Francesa em Portugal; muito pelo contrário. A convulsão
            política  que  se  seguiu  teve  influência  direta  no  Exército,  em  especial  no  seu
            sistema  de  recrutamento.  Os  governos  setembristas,  na  primeira  metade  do
            século XIX, inspirados pelas ideias liberais e pelo exército nacional, oriundos dos
            ideais da Revolução Francesa, introduziram importantes mudanças: os efetivos a
            incorporar, a forma de distribuição pelas áreas administrativas, o encorajamento
            ao serviço voluntário, entre outros. Porém, o objetivo de força a alcançar, cerca
            de nove mil homens, nunca seria alcançado. Também a educação militar sofreu
            importantes alterações, sendo criadas a Escola Politécnica e a Escola do Exército,
            tendo sido também modernizados os currículos da formação dos quadros de
            oficiais.
                  O período anterior a esta reforma foi um período de grande intervenção
            militar na vida política, que entraria num período de acalmia com a Regeneração,
            em que o desenvolvimento, a economia, a paz e a estabilidade foram os seus
            principais  objetivos.  Com  a  Regeneração,  entra-se  também  num  período  de
            nova prioridade para o Exército: a necessidade de ocupar e impor a soberania
            em território Africano, especialmente em Angola e em Moçambique. O império,
            muito mais sonhado do que real, servia os propósitos ideológicos da Monarquia
            através  dos  estribilhos  “missão  histórica”,  “destino  nacional”  e  “direitos
            históricos”, que serviram para regular as disputas coloniais até ao último quartel
            do século XIX. Porém, as disputas entre as principais potências europeias e a
            tradicional  debilidade  financeira  do  país,  elevaram  o  nível  de  ameaça  sobre
            o território africano, que, durante a Grande Guerra, iria muito para além das
            contendas com os nativos. O sistema de recrutamento manteve-se praticamente
            inalterado. O serviço militar continuava a não ser pago e com duração de cinco

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