Page 19 - recrutamento
P. 19
Introdução – Recrutamento e Mobilização: uma perspetiva histórica
anos, e continuava a ser usual o pagamento de remissões, elevando nas fileiras
os homens adultos com menos posses e das faixas mais pobres da população.
Em meados do século XIX, o Exército Metropolitano e o Exército
Colonial eram duas entidades substancialmente diferentes, uma vez que
tinham estruturas, composição, treino, equipamento e recrutamento bem
diferenciados, mas as “campanhas de pacificação” que se estenderam até ao
início do século XX viriam gradualmente a modificar aquela realidade. Havia a
impressão generalizada de que o Exército não estava em condições de garantir
a defesa das fronteiras no continente. Apenas em África a instituição militar
era posta à prova, mas contra adversários que eram francamente mais fracos.
A tecnologia militar existente no Exército, em termos de armas ligeiras para
infantaria e artilharia ligeira, era suficiente para garantir a superioridade
contra os nativos, mesmo em situações de desvantagem de vinte para um.
Os oficiais eram essencialmente metropolitanos, os colonos eram obrigados
à prestação de serviço militar na colónia, embora a remissão a dinheiro fosse
possível, e os nativos e degredados do reino eram organizados em unidades
de primeira e de segunda linha. Os sargentos eram recrutados essencialmente
entre os mestiços ou exilados do reino. Em 1901, o Exército Colonial sofreu
uma importante modificação, com o estabelecimento de um corpo de tropas
de primeira linha oriundo da metrópole, que passou a ser a força principal nas
colónias, que era decisiva nas campanhas de pacificação que perduraram até
ao início da Grande Guerra.
A implantação da República em 1910 viria a originar a imersão dos
militares na política, na tentativa de modernizar o Exército para transformá-
-lo num instrumento fiável e na criação da “nação em armas”, que ajudasse a
reforças e a consolidar o regime. Seria converter um exército profissional oriundo
da Monarquia num outro de milícias como modelo do ideário democrático da
nação em armas. A Grande Guerra e as questões políticas internas entre radicais
e moderados dentro do Partido Democrático, viriam a ser decisivos no processo
de recrutamento. Em 1915, os oficiais milicianos representavam cerca de 9% do
oficialato, mas em 1917 e em 1918 o número era praticamente igual, embora
o fosse essencialmente nos postos de alferes, tenente e capitão. O modelo de
serviço militar republicano trouxe ainda outro problema em relação ao serviço
militar obrigatório. A curta duração (4 a 8 meses), a fraca preparação e o aumento
das isenções por questões políticas levaram à convocação de tropas licenciadas
para suprir a falta de efetivos, o que originou muitos casos de indisciplina.
7