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Introdução – Recrutamento e Mobilização: uma perspetiva histórica

               anos, e continuava a ser usual o pagamento de remissões, elevando nas fileiras
               os homens adultos com menos posses e das faixas mais pobres da população.

                     Em  meados  do  século  XIX,  o  Exército  Metropolitano  e  o  Exército
               Colonial  eram  duas  entidades  substancialmente  diferentes,  uma  vez  que
               tinham  estruturas,  composição,  treino,  equipamento  e  recrutamento  bem
               diferenciados, mas as “campanhas de pacificação” que se estenderam até ao
               início do século XX viriam gradualmente a modificar aquela realidade.  Havia a
               impressão generalizada de que o Exército não estava em condições de garantir
               a defesa das fronteiras no continente. Apenas em África a instituição militar
               era posta à prova, mas contra adversários que eram francamente mais fracos.
               A tecnologia militar existente no Exército, em termos de armas ligeiras para
               infantaria  e  artilharia  ligeira,  era  suficiente  para  garantir  a  superioridade
               contra os nativos, mesmo em situações de desvantagem de vinte para um.
               Os oficiais eram essencialmente metropolitanos, os colonos eram obrigados
               à prestação de serviço militar na colónia, embora a remissão a dinheiro fosse
               possível, e os nativos e degredados do reino eram organizados em unidades
               de primeira e de segunda linha. Os sargentos eram recrutados essencialmente
               entre os mestiços ou exilados do reino. Em 1901, o Exército Colonial sofreu
               uma importante modificação, com o estabelecimento de um corpo de tropas
               de primeira linha oriundo da metrópole, que passou a ser a força principal nas
               colónias, que era decisiva nas campanhas de pacificação que perduraram até
               ao início da Grande Guerra.
                     A  implantação  da  República  em  1910  viria  a  originar  a  imersão  dos
               militares  na  política,  na  tentativa  de  modernizar  o  Exército  para  transformá-
               -lo num instrumento fiável e na criação da “nação em armas”, que ajudasse a
               reforças e a consolidar o regime. Seria converter um exército profissional oriundo
               da Monarquia num outro de milícias como modelo do ideário democrático da
               nação em armas. A Grande Guerra e as questões políticas internas entre radicais
               e moderados dentro do Partido Democrático, viriam a ser decisivos no processo
               de recrutamento. Em 1915, os oficiais milicianos representavam cerca de 9% do
               oficialato, mas em 1917 e em 1918 o número era praticamente igual, embora
               o fosse essencialmente nos postos de alferes, tenente e capitão. O modelo de
               serviço militar republicano trouxe ainda outro problema em relação ao serviço
               militar obrigatório. A curta duração (4 a 8 meses), a fraca preparação e o aumento
               das isenções por questões políticas levaram à convocação de tropas licenciadas
               para suprir a falta de efetivos, o que originou muitos casos de indisciplina.

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