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Introdução – Recrutamento e Mobilização: uma perspetiva histórica

               necessária modernização que o novo combate evidenciado pelos alemães e
               pelos aliados exigia.

                     Apesar de se manter neutral, o perigo de envolvimento na 2ª Guerra
               Mundial nunca foi colocada totalmente de lado, uma vez que a queda da França,
               em 1940, colocou a Alemanha nazi junto ao Pirenéus; e a abertura do teatro
               norte-africano no ano seguinte abria a possibilidade de envolvimento das ilhas
               do Atlântico. No final da guerra, era a vez do perigo comunista soviético poder
               chegar aos Pirenéus, colocando a defesa da Península Ibérica como a principal
               prioridade da defesa nacional.
                     Com  o  final  da  2ª  Guerra  Mundial  Portugal  foi  confrontado  com  um
               conjunto  de  fatores  que  evidenciaram  a  vulnerabilidade  internacional  do
               regime.  Apesar  da  neutralidade,  o  regime  autocrático  foi  marginalizado,
               bem evidenciado pelo facto de não lograr a entrada nas Nações Unidas. As
               desconfianças de Salazar em relação aos EUA, que saíram da guerra como a
               grande potência ocidental, não foram suficientes para evitar um conjunto de
               acordos de cooperação de defesa a que se deve adicionar o facto de Portugal
               ter sido convidado a integrar a NATO como membro fundador. As considerações
               estratégicas decorrentes do início da Guerra Fria e a importância posição dos
               Açores na estratégia dos EUA em relação à Europa acabariam por subalternizar
               o facto de Portugal não ter um regime democrático.
                     O  relacionamento  com  os  EUA  originou  a  oportunidade  de  Portugal
               modernizar  o  seu  equipamento  e  permitiu  que  uma  geração  de  oficiais  se
               atualizasse e incorporasse os preceitos doutrinários norte-americanos, dando
               origem  à  “geração  NATO”.  Esta  geração  representou  um  novo  patamar  na
               profissionalização  do  instrumento  militar  e  afastou-se  completamente  das
               questões políticas durante a década de 1950.
                     A  consolidação  e  subalternização  ao  regime  são  contemporâneas  da
               entrada de Portugal na ONU, que coloca o país no centro das atenções por
               causa da sua política colonial. Para além disso, em 1961 inicia-se o conflito
               em Angola, os EUA confrontam diretamente a política de Lisboa, o ministro
               Botelho Moniz tenta o golpe militar e, no final desse ano, Portugal perde os
               territórios na Índia. Este momento marca uma importante viragem na política
               externa  com  o  objetivo  de  manter  a  todo  o  custo  os  territórios  em  África.
               Depois do golpe falhado, a manutenção dos territórios ultramarinos passa a
               ser o principal objetivo político do regime. Com ele, a política de defesa entrou
               numa fase nova, em que a ameaça continental foi substituída pela subversão

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