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o recrutamento
e a mobIlIzação
na reconquIsta
PoRtUgUesa – 1128-1249
Carlos Filipe Afonso 1
1. Um Reino em Formação
Fazer incidir um tema específico, como é o caso do recrutamento e
mobilização, sobre uma sociedade em que estes assuntos não se distinguiam
claramente de outras dimensões da vida diária, como a organização familiar, os
ciclos agrícolas, a produção de recursos materiais e criação de recursos animais,
tudo isto envolto num contexto em que o sagrado era omnipresente e em tudo
na vida havia um propósito divino, é um exercício de difícil equilíbrio entre a
imagem que percecionamos através das fontes e estudos sobre o tema e a ideia
contemporânea de um exército formal, ao serviço do estado.
A “Primeira tarde portuguesa”, como José Mattoso se referiu à batalha de
São Mamede, ferida em 24 de junho de 1128, junto a Guimarães, constitui, do
ponto de vista identitário, uma data com indubitável significado para Portugal.
Mas importa também ter presente que o acontecimento se insere no contexto
de uma sociedade cristã que, no dizer de Elena Lourie, estava perfeitamente
organizada para a guerra . Uma sociedade eivada de constante dinamismo,
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patente de forma clara na dimensão militar.
Exército Português e Instituto de Estudos Medievais/FCSH. E-mail: cfafonso75@gmail.com
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2 LOURIE, Elena – A Society Organized for War: Medieval Spain. In Past & Present, Volume 35,
Issue 1, December 1966. Oxford: Past & Present Society – Oxford University Press, Vol. 35, pp.
54-76, 1966, p. 54. A expressão de Elena Lourie foi replicada e utilizada vezes sem conta pelos
historiadores como introdução ao contexto ibérico dos séculos VIII a XIII.
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