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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

                  O período que ficou conhecido como Reconquista, que no caso português
            decorreu entre 1128 e 1249, abrangeu os quatro primeiros reinados e o início
            do quinto, correspondente a D. Afonso III. A hoste régia não foi sempre a mesma
            e certamente que o dispositivo militar com que pôde contar o “Bolonhês”, em
            1249, para a conquista definitiva de Santa Maria de Faro, era já distinta da que o
            seu bisavô, D. Afonso Henriques, tinha conduzido para o campo de Ourique, em
            1139. Pouco mais de um século do jovem reino em que a faixa de fronteira se foi
            alterando, as ameaças modificando-se e o próprio tecido social adotando novas
            configurações.  Um  tempo  marcado  pela  conflitualidade  quase  permanente,
            em que aos fossados anuais – régios e de iniciativa concelhia – se juntavam
            os assédios a fortificações, a colonização de espaços pela força, mas também
            ações de vigilância e de defesa do território e reações aos ataques das ameaças,
            fossem estas muçulmanas ou cristãs.

                  Os  conceitos  de  Reconquista  e  de  Cruzada  têm  gerado  abundante
            controvérsia  entre  os  especialistas,  já  que  as  suas  construções  teóricas  não
            são  unânimes  nem  se  encontram  estabilizadas.  Na  superficialidade  dos
            termos, existe concordância generalizada acerca do seu significado: no caso da
            Reconquista, o longo processo de apropriação territorial por parte dos poderes
            cristãos peninsulares face aos poderes islâmicos presentes no al-Andalus; no
            caso da Cruzada, o contexto de guerra santa movida pela Cristandade contra
            o Islão, sob o patrocínio da Santa Sé. Mas logo abaixo da superfície, mantêm-
            -se  múltiplos  debates  historiográficos  em  torno  dos  contextos  e  das  cargas
            ideológicas  derivadas  de  sucessivas  reutilizações,  ao  longo  dos  séculos,  pela
            mão de diferentes intervenientes. Constituem como que um pano de fundo em
            relação para uma boa parte da conflitualidade, ainda que na mente de muitos
            dos  seus  protagonistas  não  existissem,  nem  com  a  designação  nem  com  os
            significados que hoje lhes atribuímos.

                  Um  outro  conceito  que  está  estreitamente  ligado  a  este  tempo  é  o
            de fronteira que, nos séculos XII e XIII, não era um limes, mas sim uma faixa
            ampla e com caraterísticas diferenciadas. Entre poderes cristãos tendia a estar
            mais bem demarcada e a gerar linhas de fortificações de parte a parte, fruto
            dessas sociedades cuja militarização era generalizada e que faziam de qualquer
            indivíduo  um  potencial  guerreiro.  Entre  cristãos  e  muçulmanos,  a  fronteira
            tendia a ser mais ampla, fortificada do lado cristão, mas pouco militarizada nas
            áreas de influência muçulmana, já que os poderes islâmicos preferiam empregar


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