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1. O recrutamento e a mobilização na Reconquista Portuguesa – 1128-1249

               Calvo”, patente num documento de 1220, ou “atalayam de Martino Ruderici” ,
               num outro de 1258 .
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                     Outro serviço de cariz defensivo era o desempenhado no castelo. Neste
               campo podemos distinguir duas modalidades: i) a construção e reparação de
               fortificações,  designada,  de  forma  geral,  por  “anúduva”  e;  ii)  a  sentinela  ou
               “vela” nas muralhas e a custódia dos detidos .
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                     A anúduva incluía não só a manutenção das estruturas de defesa, mas
               também a apropriação de caminhos e a ela estavam sujeitos somente os peões
               tributários, ou seja, os homens livres não dependentes de um senhor . O esforço
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               de anúduva parece ter sido mais frequente e permanente no Entre-Douro-e-
               -Minho do que em outras regiões, talvez por existir uma maior concentração
               de  castelos  mais  antigos,  herdados  do  período  condal,  que  incluíam  parte
               significativa das estruturas em madeira . Em contrapartida, algumas anúduvas
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               eram claramente temporárias, devendo-se à fase construtiva de um castelo ou
               a reparações urgentes e pontuais em contexto de campanha, como parece ter
               sido o caso do castelo da Guarda, no reinado de D. Sancho II .
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                     A vela, serviço de sentinela às muralhas e torres, era também assegurada
               pelas populações vizinhas. Os habitantes de São Pedro de Cerzedelo (c. Vieira
               do Minho) tinham obrigação de velar, dois a dois e durante a noite, o castelo
               de Penafiel de Soaz . Temos até uma indicação mais rigorosa, que diz respeito
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               ao serviço prestado no castelo de Arnóia, onde a vela competia a oito casais da
               freguesia de Infesta (c. Celorico de Basto), sendo o casal de Martim Gomes o


               11  MARTINS, Miguel – Para Bellum: organização e prática da guerra em Portugal na Idade Média
               (1245-1367).  Tese  de  doutoramento  apresentada  à  Faculdade  de  Letras  da  Universidade  de
               Coimbra, 2007, p. 552, n. 987.
                 Em  Portugal  parece  ter  sempre  havido  uma  distinção  entre  a  anúduva  e  a  vela,  como  se
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               depreende dos moradores de Santa Maria de Covide (c. Amares), em 1258, onde “todos desta
               collatione levam a madeira et fazem no Castello, excepto a quintana de Vilar et de Johanne Mouro
               et de Petro Pelaiz, que vaam a vela”(PMH-I-I, p. 420).
                 TORRES, Rui – Anúduva. In Dicionário da História de Portugal. Dir. Joel Serrão. Porto: Livraria
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               Figueirinhas, 1984, p. 161.
               14  GONÇALVES, Iria – Os camponeses minhotos e a defesa da terra. In Por entre terras de Entre-
               -Douro-e-Minho com as Inquirições de D. Afonso III. Porto: CITCEM e Afrontamento, pp. 15-48,
               2011, p. 27.
               15  “(…) iverunt in anuduvam Regis ad Gardiam tempore regis Sancii fratris istius Regis” (PMH-I-I,
               p 896a, de 1258).
               16  PMH-I-I, p. 1502a, de 1258. Ainda hoje, nas forças militares contemporâneas, especialmente
               durante o período noturno e períodos de baixa visibilidade, os postos de vigilância/ postos de
               escuta são assegurados por uma “parelha”.
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