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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            cerca  de  metade  dos  cavaleiros  (e  por  todos  os  peões,  caso  participassem),
            incumbidos  de  a  defender  e  de  guardar  o  produto  do  saque  que  nela  se  ia
            concentrando, enquanto a outra metade se articulava em algaras, que “corriam
            a terra”, pilhando e destruindo. Quando o espólio obtido era já suficiente para
            cumprir  a  finalidade  da  operação,  os  territórios  circundantes  já  estivessem
            devastados, o período de serviço dos combatentes estivesse perto do fim ou na
            iminência de interseção de uma hoste inimiga em contra-ataque, a expedição
            retirava, o mais rapidamente possível (mas sem comprometer a segurança), em
            direção às linhas cristãs .
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                  No âmbito municipal, distinguem-se os fossados e as azarias. Os primeiros
            eram convocados pelo representante régio (o alcaide), ou pelo próprio poder
            municipal (nomeando um ou mais adaís para o comando). A partir de 1179
            tornou-se usual, em muitos municípios, distinguir as operações que contavam
            com menos de 60 cavaleiros das que reuniam um efetivo superior, estando
            em causa duas modalidades diferentes de partilha do saque obtido. Mas a
            documentação também nos revela, indiretamente, que acima das seis dezenas
            de cavaleiros, as exigências de comando, controlo e coordenação da expedição
            eram diferentes. Num extremo oposto, alguns municípios não dispunham de
            população  que  conseguisse  gerar  cavaleiros  suficientes  para  desencadear
            expedições em autonomia. Era o caso de Idanha, que em 1229 só podia ir em
            fossado ou apelido juntamente com os moradores de Proença .
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                  As  azarias  parecem  ter  sido  expedições  ofensivas  espontâneas  por
            parte das populações, não enquadradas nem pelo alcaide, nem pelo adaíl .
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            Surgem, na documentação, em paralelo com as guardas, ações de combate
            que resultavam do exercício de velas ou serviços de vigilância que, quando
            avistavam inimigo, desferiam sobre ele um ataque imediato. O facto de azarias
            e guardas beneficiarem do mesmo tipo de disposições quanto à repartição de
            espólio obtido, excluindo qualquer quinhão para o rei, para o alcaide ou para
            o adail, deixa entrever a ausência de enquadramento formal, apontando para
            ações “de oportunidade”, conduzidas pelas populações armadas .
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               GARCÍA FITZ, 1998, pp. 130-131.
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            33  PMH-LC-I, p. 613.
               BARROCA, 2003, p. 84.
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               Vejam-se, por exemplo, os forais de Évora de 1166 e de Palmela, de 1185: De azarias et de
            guardias quintam partem nobis date sine ulla offrecione (PMH-LC, pp. 393 e 430).
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