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1. O recrutamento e a mobilização na Reconquista Portuguesa – 1128-1249

               combater ou até aos 60 anos. Isto incluía cavaleiros nobres, cavaleiros-vilãos,
               peões, elementos das ordens militares e até clérigos regulares e seculares . O
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               alerta podia ser dado à voz, através do toque de instrumentos (trompas, anafis,
               cornetas e tambores) ou ainda por intermédio de fogos e sinais de fumo . Os
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               foros de Castelo Bom explicitam o brado “às armas” , que pode ter perdurado,
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               de forma contínua ou descontínua, até aos dias de hoje, já que continua a ser
               utilizado no Exército Português de forma honorífica.

                     No  serviço  militar  ofensivo  destacam-se  os  fossados,  as  cavalgadas,  as
               azarias e as guardas. O fossado era uma incursão em território inimigo em busca
               de proventos de guerra e o termo tanto podia designar pequenas expedições
               levadas  a  cabo,  por  exemplo,  por  um  município  ou  ações  de  grande  escala,
               comandadas pessoalmente pelo rei. Os fossados podiam ser executados só por
               cavaleiros ou integrar peões e também variavam nos objetivos . Frequentemente,
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               o termo “cavalgada” era utilizado como sinónimo de fossado, mas também podia
               designar uma incursão em que participavam somente cavaleiros, um fossado
               concelhio ou mesmo um destacamento que se afastava da hoste em campanha
               para “correr” algum lugar .
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                     Estas expedições públicas, comandadas pelo rei ou em seu nome pelos
               alcaides dos castelos, eram desencadeadas anualmente, em maio, sendo neste
               género de operações que se enquadram os casos de Ourique, em 1139 e de
               Triana, em 1178 . Ações militares desta envergadura não eram possíveis de
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               executar em movimento contínuo. A hoste tinha de ser constituída e reunida
               num local e dia específicos, efetuar um deslocamento até às proximidades do
               objetivo (o destino mais apetecível parece ter sido o fértil Aljarafe, junto a Sevilha,
               na  margem  direita  do  Guadalquivir)  e  estabelecer  um  arraial,  normalmente
               protegido por paliçadas e fossos . Esta base de ataque ficava guarnecida por
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               25  BARROCA, 2003, p. 80.
               26  Partidas, II, Título XXVI, Lei XXIIII. Ver também BARROS, Henrique – História da Administração
               Pública em Portugal nos séculos XII a XV. Tomo I. Lisboa: Imprensa Nacional, 1885, p. 172.
               27  PMH-LC-I, p. 752.
               28  POWERS, James – A society Organized for War: The Iberian Municipal Militias in the Central
               Middle Ages, 1000-1284. Berkeley and Los Angeles: University of California Press, 1988, p. 158.
               29  GARCÍA FITZ, Francisco – Castilla y León frente al Islam: estratégias de expansión e tácticas
               militares (siglos XI-XIII). Sevilla: Universidad de Sevilla, 1998, pp. 95-96, n. 65.
               30  MARTINS, Miguel – De Ourique a Aljubarrota: A Guerra na Idade Média. Lisboa: A Esfera dos
               Livros, 2011, pp. 44 e 109.
                 Alguns autores justificam o termo “fossado” com esta necessidade de organização defensiva do
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               terreno no arraial estabelecido em território inimigo.
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