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1. O recrutamento e a mobilização na Reconquista Portuguesa – 1128-1249

               as podiam levar a cabo de forma autónoma. Mas a expansão territorial, embora
               pudesse  ser  conduzida  sem  a  presença  régia,  pressupunha  a  anuência  e  o
               patrocínio do monarca .
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                     Nos primeiros reinados, embora não houvesse clara diferença de natureza
               entre o poder régio e o poder dos senhores dentro dos seus senhorios, o rei
               de Portugal beneficiou de vários fatores que rapidamente o diferenciaram dos
               restantes. Em primeiro lugar, a extensão das conquistas de D. Afonso Henriques
               até 1169 e a capacidade de fazer frente às campanhas almóadas de 1184 e
               1195. Depois, a importância económica e populacional das cidades de Coimbra,
               Santarém, Lisboa e Évora, diretamente controladas pela Coroa. Adicionalmente,
               o facto de gerar concelhos, que foram proliferando por todo o território, e dos
               quais  o  monarca  era  o  seu  senhor  direto.  Por  último,  a  própria  organização
               administrativa islâmica, que reconhecia (à sua própria imagem) a existência de
               um poder central e que, por isso, considerava um rei superior a qualquer outro
               poder, mesmo entre os cristãos .
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                     Portanto, faz sentido que abordemos o recrutamento e a mobilização do
               ponto de vista da hoste régia, já que esta constituía o que mais se assemelha
               aos exércitos permanentes que ressurgiram a partir da Idade Moderna. Mas a
               caraterística principal desta hoste é que, nos séculos XII e XIII, apesar de deter
               um pequeno núcleo estável, não era nem permanente, nem se fazia constituir
               sempre  do  mesmo  modo.  Além  disso,  dada  a  descentralização  inerente  ao
               contexto  já  descrito,  muitos  poderes,  como  a  nobreza,  as  ordens  militares,
               os concelhos ou mesmo bandos de combatentes conjunturais, conduziam a
               guerra, ora em nome do soberano, ora de motu próprio.


                     2. as obrigações Militares
                     A  organização  social,  com  a  existência  de  senhores  e  vassalos  e  uma
               economia fundamentalmente assente na produção agrícola, conduziu a que os
               dependentes estivessem obrigados a prestar serviço militar, mas sempre limitado
               na duração e, frequentemente, a troco de um pagamento, que teve designações


               5  Vejam-se  os  casos  da  conquista  de  Alcácer,  em  1217,  protagonizada  pelo  bispo  de  Lisboa,
               acompanhado por vários dignitários, em coordenação com os contingentes francos da Quinta
               Cruzada. ou da conquista do Algarve, nas décadas de 1230 e 1240, conduzida quase em exclusivo
               pela Ordem de Santiago, sob o comando do comendador de Palmela, Paio Peres Correia.
               6  MATTOSO, José – As origens do Estado Português (séculos XII a XIV). In Naquele tempo. Ensaios de
               História Medieval. Lisboa : Temas e Debates & Círculo de Leitores, pp. 437-453, 2009, pp. 437-438.
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