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1. O recrutamento e a mobilização na Reconquista Portuguesa – 1128-1249
grandes exércitos estatais, mobilizados a partir das principais cidades, sendo as
guarnições rurais, por norma, diminutas.
A fronteira com Leão era inexistente até ao início da terceira década do
século XII e não foi instituída de um dia para o outro. O esforço de fortificação
de parte a parte e o estabelecimento de uma linha delimitadora entre ambos
os poderes régios, leonês e português, prolongou-se no tempo, facilitado onde
a orografia e a hidrografia proporcionavam obstáculos naturais (como nos
casos dos rios Minho e Côa), mas mais difuso nas regiões que não contavam
com acidentes evidentes e em que os poderes locais (como os senhorios), ou
regionais (como as dioceses), controlavam territórios que ambos os reinos
reclamavam estar sob a sua esfera de influência.
A fronteira com o Islão, que passou a ser conhecida, no ocidente
peninsular, por Extrematura , abrangeu faixas diferentes de território. Quando
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D. Afonso Henriques assumiu os destinos do Condado Portucalense, toda a área
entre o Mondego e o Tejo era fronteira. A partir de 1147, com a conquista de
Santarém, Lisboa e toda a linha do Tejo, foi um novo espaço, coincidente com os
atuais Alentejo e Extremadura espanhola, que passou a significar “a fronteira”.
Mesmo durante o período de preponderância almóada (sensivelmente entre
1170 e 1230), em que muitas praças a sul do Tejo voltaram ao controlo do
Islão, a região manteve as suas caraterísticas de fronteira, sendo disso um
sinal evidente a atuação de bandos de latronibus como o de Geraldo “Sem
Pavor”, entre 1165 e 1173, numa área sensivelmente delimitada por Beja a sul
e Trujillo a norte.
Até ao século XI tinham ocorrido importantes mutações na forma de
ocupação e colonização dos espaços. As presúrias, que tinham consistido na
apropriação de espaço em nome do monarca, conduziram à organização do
território com base em amplas circunscrições administrativas, designadas
civitates, onde se multiplicavam castros e pequenos castelos roqueiros e
condais. A mutação administrativa do século XI deu lugar a um sistema de
terras, circunscrições de dimensões mais reduzidas organizadas em torno de
um só castelo cabeça-de-terra e administradas por um nobre, de nomeação
régia e vigência temporária: o tenens (tenente). Este sistema vigorava no reino
de Leão e, em Portugal, manteve-se até ao reinado de D. Dinis.
3 CERNADAS MARTÍNEZ, Sílvia – La frontera luso-castellana en la Edad Media. El Tratado de
Alcañices (1297). Trabalho de final de mestrado. Valladolid : Universidad de Valladolid, 2012, p. 12.
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