Page 27 - recrutamento
P. 27

1. O recrutamento e a mobilização na Reconquista Portuguesa – 1128-1249

               grandes exércitos estatais, mobilizados a partir das principais cidades, sendo as
               guarnições rurais, por norma, diminutas.
                     A fronteira com Leão era inexistente até ao início da terceira década do
               século XII e não foi instituída de um dia para o outro. O esforço de fortificação
               de parte a parte e o estabelecimento de uma linha delimitadora entre ambos
               os poderes régios, leonês e português, prolongou-se no tempo, facilitado onde
               a  orografia  e  a  hidrografia  proporcionavam  obstáculos  naturais  (como  nos
               casos dos rios Minho e Côa), mas mais difuso nas regiões que não contavam
               com acidentes evidentes e em que os poderes locais (como os senhorios), ou
               regionais  (como  as  dioceses),  controlavam  territórios  que  ambos  os  reinos
               reclamavam estar sob a sua esfera de influência.

                     A  fronteira  com  o  Islão,  que  passou  a  ser  conhecida,  no  ocidente
               peninsular, por Extrematura , abrangeu faixas diferentes de território. Quando
                                         3
               D. Afonso Henriques assumiu os destinos do Condado Portucalense, toda a área
               entre o Mondego e o Tejo era fronteira. A partir de 1147, com a conquista de
               Santarém, Lisboa e toda a linha do Tejo, foi um novo espaço, coincidente com os
               atuais Alentejo e Extremadura espanhola, que passou a significar “a fronteira”.
               Mesmo durante o período de preponderância almóada (sensivelmente entre
               1170 e 1230), em que muitas praças a sul do Tejo voltaram ao controlo do
               Islão,  a  região  manteve  as  suas  caraterísticas  de  fronteira,  sendo  disso  um
               sinal evidente a atuação de bandos de latronibus como o de Geraldo “Sem
               Pavor”, entre 1165 e 1173, numa área sensivelmente delimitada por Beja a sul
               e Trujillo a norte.
                     Até ao século XI tinham ocorrido importantes mutações na forma de
               ocupação e colonização dos espaços. As presúrias, que tinham consistido na
               apropriação de espaço em nome do monarca, conduziram à organização do
               território  com  base  em  amplas  circunscrições  administrativas,  designadas
               civitates,  onde  se  multiplicavam  castros  e  pequenos  castelos  roqueiros  e
               condais. A mutação administrativa do século XI deu lugar a um sistema de
               terras, circunscrições de dimensões mais reduzidas organizadas em torno de
               um só castelo cabeça-de-terra e administradas por um nobre, de nomeação
               régia e vigência temporária: o tenens (tenente). Este sistema vigorava no reino
               de Leão e, em Portugal, manteve-se até ao reinado de D. Dinis.



               3  CERNADAS  MARTÍNEZ,  Sílvia  –  La frontera luso-castellana en la Edad Media. El Tratado de
               Alcañices (1297). Trabalho de final de mestrado. Valladolid : Universidad de Valladolid, 2012, p. 12.
                                                                                   15
   22   23   24   25   26   27   28   29   30   31   32