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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

                  A convocação de guerreiros das imediações da área de operações está,
            por exemplo, patente no comportamento de Lourenço Viegas, “o Espadeiro”.
            Depois  de  ter  sido  alferes  por  um  curto  período  (1129-30),  retirou-se  para
            os seus domínios minhotos. A partir dessa data e até 1160, estará ausente
            da maioria das campanhas do rei, mas comparecerá sempre que a guerra é
            no Entre-Douro-e-Minho ou na Galiza . Não podemos ter a certeza, mas é
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            bem provável que a sua presença junto do monarca nesses breves períodos,
            por coincidirem com campanhas militares, tenha sido no comando de uma

            mesnada mobilizada nos seus senhorios.
                  A convocatória de contingentes para um dia e local de reunião é o que
            parece ter ocorrido no fossado em que ocorreu a batalha de Ourique, em 1139.
            A hoste reuniu em Coimbra, deslocou-se para a profundidade do território
            muçulmano e regressou, depois a Coimbra, para uma parada triunfal . Três
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            décadas mais tarde, em 1178, o infante D. Sancho marcou a data de três de
            julho para que a hoste se reunisse na Golegã para, a partir daí, se dirigir ao
            objetivo .
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                  A  mobilização  de  contingentes  ao  longo  do  itinerário  de  progressão
            do exército foi a opção de D. Sancho I em 1199, a caminho de Pinhel, onde
            combateu com o rei de Leão. A hoste foi convocada ao longo de dois eixos, um
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            a norte do Douro, por onde se deslocou o monarca, proveniente do Porto  e
            outro a sul do rio, sendo evidentes as mobilizações ao longo da “Estrada da
            Beira” .
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                  As obrigações militares que pendiam sobre as populações demonstram
            uma grande e rápida capacidade de adaptação às alterações das conjunturas.
            As gentes de Entre-Douro-e-Minho desenvolveram todo um sistema integrado


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               Acompanhou o rei em 1134 [Documentos Medievais Portugueses. Vol. 1, t.1/2 – Documentos
            Régios: Documentos dos condes portugaleses e de D. Afonso Henriques, A.D. 1095-1185. Ed. Rui
            de Azevedo e Luís Ferrand de Almeida. Lisboa: Academia Portuguesa da História, 1941, doc. 138
            (DR 138 de 1134, fevereiro)] e 1135 (DR144 e 148), o que nos leva a supor que esteve na batalha
            de Cerneja. Esteve presente em vários outros momentos, sendo a sua última notícia de 1160, ano
            em que D. Afonso Henriques ocupou Tui, sede do condado de Toronho (DR275 de 1160, abril. 9).
            43  Crónica de Portugal de 1419. Ed. Crítica com Introdução e Notas de Adelino de Almeida Calado.
            Aveiro: Universidade de Aveiro, 1998, p.24 (CP1419, p. 24).
               CP1419, p. 69.
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            45  Ver, por exemplo, a mobilização do couto de Pendorada (c. Marco de Canaveses), PMH-I-I,
            p. 1381a.
            46
               Ver, por exemplo, a mobilização dos homens de Pinheiro de Ázere (c. Santa Comba Dão), PMH-
            -I-I, p. 816b.

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