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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

                  O sucesso dos “guerristas” do Partido Democrático redundou na entrada
            de Portugal na frente europeia e na criação do Corpo Expedicionário Português,
            resultado do “milagre de Tancos”, mas que seria o prelúdio do desastre de La Lys,
            em 1918: cerca de 1300 mortos, mais de 4500 feridos, quase 2000 desaparecidos
            e  mais  de  7000  prisioneiros.  Se  a  estes  números  somarmos  as  perdas  em
            Angola  e,  especialmente,  em  Moçambique,  o  preço  da  beligerância  com  um
            exército  mal  preparado  e sem referências  estratégico-políticas, facilmente se
            compreende que no final da guerra o país estivesse bem pior do que no seu
            início.  Na  década  seguinte,  problemas  económicos,  sociais  e  as  recorrentes
            intervenções dos militares na política redundariam no golpe de 28 de maio de
            1926 e na instauração da ditadura militar.

                  O  estabelecimento  do  regime  autocrático  liderado  por  Salazar  foi
            confrontado  desde  cedo  com  os  efeitos  da  Guerra  Civil  de  Espanha  (1936-
            -1939):  o  vizinho  espanhol  e  “perigo  republicano”  comunista.  Para  além  da
            ameaça externa, estava em cima da mesa a sobrevivência do regime. Apesar
            da declarada não intervenção, Portugal concedeu apoios que não devem ser
            desprezados, especialmente ao nível diplomático, logístico e de recrutamento
            de voluntários para a causa nacionalista liderada por Franco. Neste contexto, a
            prioridade de Salazar em consolidar o regime obrigou a importantes mudanças
            no Exército a fim de garantir a sua lealdade e a modernização necessárias. Por
            essas razões, houve alterações no recrutamento e no dispositivo, com redução
            do  efetivo  e  modernização  do  equipamento  e  do  armamento.  Manteve-se  a
            conscrição universal, mas foi reforçado o quadro de profissionais. As unidades
            que  não  eram  consideradas  fiáveis  ou  leais  foram  removidas  de  Lisboa  e  as
            que garantiam o apoio seguro foram colocadas no dispositivo de forma a mais
            facilmente  proteger  a  capital  e  o  regime.  O  incremento  nas  regalias  sociais,
            vencimentos e promoções aos oficiais assegurariam a estabilidade e o apoio
            necessário ao regime.
                  Depois do fim da Guerra Civil de Espanha, a prioridade da defesa é a
            modernização do exército metropolitano e a preservação do exército colonial.
            O  recrutamento  mantém-se  obrigatório,  aumenta  o  tempo  de  serviço  de
            quatro para seis anos, embora o serviço efetivo fosse apenas de um ano, após
            o qual integrava a reserva de disponibilidade até aos seis anos. Nas colónias,
            para além dos cidadãos portugueses, podiam servir também os nativos de cada
            território. Até ao início da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), Salazar consegue
            garantir a subordinação das forças armadas ao regime, mas não consegue a

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