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Introdução – Recrutamento e Mobilização: uma perspetiva histórica
Entre 1580 e 1640, num quadro de monarquia Dual em que boa parte
do espaço colonial do planeta era ibérico, o modelo militar assentou numa
estratégia de defesa da linha de costa, com os pontos estratégicos costeiros
a serem defendidos por fortalezas abaluartadas guarnecidas por tropa
permanente. As mais de duas décadas da Guerra da Restauração (1640-1668)
conformaram uma estratégia nacional eficaz, assente em boa medida no vetor
militar, que naturalmente se refletiu no recrutamento e mobilização. Em 1666,
o Exército, no continente europeu, contava com 37 800 combatentes, mais do
dobro do efetivo com que iniciara o conflito. Mas apesar da Guerra dos Trinta
Anos (1618-1648) ter trazido novos modelos militares aos teatros europeus, o
conflito contra Espanha continuou a ser, em larga medida, uma guerra de tercios
espanhóis contra terços portugueses.
É só durante o século XVIII que os modelos evoluem para um sistema
de conscrição, que já entra em conta com a distribuição demográfica e com
outros vetores de equilíbrio social e económico. A principal ameaça ao Portugal
europeu continua a ser a vizinha Espanha e todo o modelo militar continental
se consolida assente na perspetiva estratégica de defesa das penetrantes
terrestres através das províncias, que eram pensadas como teatros de guerra
autónomos, desvalorizando a linha costeira. Em 1707, D. João V promulgou nova
legislação que transformou os anteriores terços em regimentos e, sobretudo,
proporcionou à Coroa a capacidade de ter unidades permanentes, mesmo em
tempo de paz, alimentadas por um sistema de recrutamento miliciano, a partir
do qual eram selecionados os melhores soldados e comandantes para guarnecer
o Exército de Linha. A mobilização de forças por iniciativa particular da nobreza
tinha praticamente acabado.
Em 1762, em plena Guerra dos Sete Anos (1756-1763) o conde alemão
Schaumburg-Lippe foi convidado, pelo futuro marquês de Pombal, para comandar
o Exército Português. Não só comandou em operações, no quadro da chamada
Guerra Fantástica (repercussão ibérica do conflito europeu), como, após o
conflito, introduziu um novo sistema de recrutamento, decalcado do modelo
prussiano, que não só agilizou a formação e treino dos novos soldados, como
gerou, pela primeira vez, uma clara distinção dos militares em relação à restante
sociedade, passando a ser vistos com um corpo disciplinado e eficiente. O ofício
da guerra, agora dotado de campos de manobras fixos e de exercícios e manobras
anuais, passava a ser encarado socialmente através da imagem de uma instituição
formal e não por intermédio da valia individual de guerreiros destacados.
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