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Introdução – Recrutamento e Mobilização: uma perspetiva histórica

               logísticas, para citar alguns, obrigam a que um soldado deva ter uma preparação,
               rusticidade e resistência emocional próprias para essa forma de guerra. Cada
               período histórico aqui tratado pelos autores reflete uma realidade própria de
               interação de fatores e circunstâncias como influência direta no recrutamento
               e na mobilização: estrutura social; perceção de ameaças; natureza do regime;
               situação económica; ambiente internacional; tecnologia; organização do estado;
               ideologia política. Compreender o processo de recrutamento e mobilização em
               cada período histórico, desde a fundação à atualidade, com as suas dinâmicas
               próprias é contribuir também para se compreender como o Exército se deve
               adaptar em antecipação às mudanças dos novos tempos.

                     A  identidade  nacional  portuguesa  procura  e  encontra  o  seu  momento
               fundacional  no  governo  de  D.  Afonso  Henriques,  iniciado  em  1128,  como
               resultado da secessão de uma parcela do reino de Leão. A perspetiva identitária
               gera frequentemente a ilusão de que para trás não existia nada ou o que existia
               não tinha a forma perfeita que só os feitores de um novo reino lhe conseguiram
               dar. Se, por um lado, foi  guerra que tornou viável a formação e consolidação de
               um país independente no ocidente peninsular, também é verdade que toda a
               sociedade cristã do século XII se encontrava organizada em função da guerra e
               que os modelos de mobilização militar desses tempos eram, em larga medida,
               análogos aos dos reinos limítrofes.
                     A par da aristocracia guerreira, havia outras entidades que conduziam a
               guerra em convergência e apoio da Coroa, destacando-se as ordens militares
               e  os  poderes  concelhios.  Apesar  de  partilharem  modelos  de  recrutamento
               e  mobilização,  cada  uma  destas  entidades  dispunha  de  um  universo  próprio
               de  recursos  humanos  e  era  responsável  pela  geração  e  manutenção  do  seu
               efetivo, num tempo em que a conflitualidade contra o infiel, contra os reinos
               cristãos vizinhos e mesmo a guerra endémica eram uma constante. Este modelo
               bastante descentralizado, de corpos militares de constituição temporária, fazia
               do exército régio uma estrutura com um pequeno núcleo semipermanente (a
               guarda régia) ao qual se juntavam contingentes de diferentes proveniências, em
               função dos objetivos, duração e da área espacial da campanha.

                     Em  meados  do  século  XIII,  o  final  da  Reconquista  portuguesa  e  a
               consolidação das estruturas administrativas do reino viram refletida, na dimensão
               militar, a estabilização de modelos de mobilização centralizados a partir da corte.

               Surgem corpos militares de efetivo previamente fixado e registado (destacando-
               -se  os  cavaleiros  aquantiados  e  os  besteiros  do  conto),  estabelecendo-se  o


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