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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
cariz violento em território nacional. Entre 1890 e 1919 não houve um único ano
em que numa ou em mais colónias não fossem realizadas operações policiais
e/ou militares, muitas delas exigindo a mobilizações de forças numerosas de
unidades do Reino.
No entanto foi durante a Grande Guerra, logo a partir de 1914 – quando
ainda Portugal não era beligerante – que o exército mobilizou expedições
significativas para Angola e Moçambique, mas principalmente a partir de 1917
quando mobilizou, num esforço nunca antes visto, o Corpo Expedicionário
Português para a Frente Ocidental, que o verdadeiro teste às leis e regulamentos
sobre recrutamento e mobilização foi feito.
Um olhar global
Os dados estatísticos disponíveis entre 1896 e 1926 permitem tecer
algumas considerações relevantes . Se em 30 anos houve um aumento de
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cerca de 50% nos recenseados passando de 60.000 para 90.000 o mesmo não
se verificou, pelo menos na mesma dimensão, com os inspecionados e muito
menos com os incorporados. Nestes últimos a mudança significativa dá-se com
a implantação da república e com o novo modelo de exército e de prestação de
serviço. Tirando o caso do ano de 1916 com a mobilização das classes disponíveis
para o CEP, não existe alteração alguma que pela sua discrepância permita
identificar nesta linha temporal um momento ou evento (por exemplo algumas
das campanhas ultramarinas) disruptivo da normalidade, o que pode indiciar
que os sucessivos regulamentos cumpriram com as necessidades operacionais
do exército em território nacional ou além-fronteiras.
A diferença muito significativa verificada durante a monarquia entre o
número de apurados e os incorporados atesta o sentimento muito comum na
época de que a prestação do serviço militar não era para todos e que havia
muita margem – para quem podia e conseguia – furtar-se ao cumprimento do
94 Só a partir de 1896 é que estão disponíveis os relatórios anuais do recrutamento. Mesmo assim
é por vezes difícil encontrar, para alguns dados, a mesma forma de sistematização em todos os
anos. Na compilação da informação para a elaboração dos gráficos que se seguem os dados
relativos aos anos de 1896 a 1914 (exceto 1906 em que não se encontrou o respetivo relatório)
foram retirados dos Relatórios anuais de cada ano, para os anos de 1915 a 1926 os dados usados
foram retirados de uma compilação constante na História do Exército Português (1910-1945),
Volume IV (pp. 417-419). A linha temporal 1896-1926 divide-se praticamente de forma equitativa
entre os dois regimes: monarquia de 1896 a 1910 correspondendo a 14 anos; república de 1911 a
1926 correspondendo a 15 anos.
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