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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            Num vetor está a mobilização demográfica e a conscrição, noutro vetor está a
            tecnologia: exércitos de massas ou exércitos tecnológicos.
                  Antes  da  2ª  Guerra  Mundial,  de  algum  modo,  a  resposta  das  grandes
            potências foi mesclada. O princípio da conscrição universal foi mantido, mesmo
            em países como a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, onde se pressupunha que
            em caso de uma grande conflagração seria imprescindível a mobilização para as
            forças armadas da grande massa válida masculina da nação. Todavia, na maioria
            dos exércitos foram desenvolvidas e criadas forças de elevada tecnicidade com
            os meios materiais mais sofisticados que podiam ser desenvolvidos e integrados,
            tornando-se estas forças o vértice da capacitação militar e da eficiência bélica
            em cada país.

                  A  tecnicidade  não  correspondia  unicamente  a  aquisição  de  carros
            de  combate,  aos  “tanks”,  como  à  época  ainda  se  dizia  em  Portugal,  mas  a
            uma  progressiva  integração  de  meios  terrestres  automobilizados  e  aéreos,
            capazes de operar a níveis cada mais coordenados e interconectados, através
            de um instrumento que deu um imenso salto tecnológico nessas décadas: a
            radiocomunicação. Não obstante, a prudência parecia demandar, em vez de um
            salto tecnológico no escuro, uma progressiva aproximação ao futuro, organizando
            a força bélica, de modo a que, mantendo o papel estratégico da conscrição, se
            desenvolvesse  as  forças  tecnológicas-industriais  mecânicas,  aeroterrestres  e
            rádio-conectadas, essenciais, assim se julgava então, e o porvir o asseveraria, a
            eficácia da ação belígera. A guerra do futuro seria a “materialschlacht”, a “batalha
            do material”, a guerra das massas materiais, leitura alemã da experiência da
            Grande Guerra, plenamente confirmada com a 2ª Guerra Mundial, um conflito
            de massas humanas, industriais e tecnológicas.
                                                      2
                  Para  Portugal,  país  de  “artesanato  industrial”  ou  de  “indústria  caseira”,
            como os especialistas coevos, eles próprios, epitetavam grande parte da indústria



            2  Esta síntese alicerça-se em dois textos de autoria do autor deste texto, obviamente assente por
            sua vez na bibliografia que suporta estes. Remeto o leitor para esses textos e se mais interesse
            houver  em  aprofundar  esse  tema,  para  a  bibliografia  neles  inserta.  DUARTE,  António  Paulo  –
            A Visão da «Guerra Total» no Pensamento Militar. Nação e Defesa, 3ª Série, Nº 112 (Outono -
            Inverno de 2005), pp. 133-150 e DUARTE, António Paulo – A Grande Guerra na Genealogia da
            Estratégia.  In  DUARTE,  António  Paulo;  PINTO,  António  Costa;  PIRES,  Ana  Paula;  REIS,  Bruno
            Cardoso; ROLLO, Maria Fernanda (Coord.) – Uma Pequena Potência é uma Potência? O Papel
            e  a  Resiliência  das  Pequenas  e  Médias  Potências  na  Grande  Guerra  de  1914-1918.  Cadernos
            nº  18.  Lisboa:  Instituto  da  Defesa  Nacional,  2015,  pp.  25-36.  in  http://www.idn.gov.pt/index.
            php?mod=1351&cod=27#sthash.QFl3qlxZ.dpbs.
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