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11. Nação e Mobilização – Estratégia e Recrutamento na Era Salazar (1933-1959)
militares, não só como elementos para o recrutamento, mas de mobilização da
reserva, era fundamental para assegurar um exército mobilizado muito maior,
visto o controlo sobre a essa força permanecer teoricamente, para lá da fase de
recruta e instrução, nas mãos do corpo de oficiais do Exército, contrariamente ao
que acontecia durante a I República, com as denominadas escolas de repetição,
o que possibilitaria, além disso, a maior mobilidade dos soldados mobilizados, já
não apensos às divisões territoriais (igualmente extintas ), mas disponíveis para
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utilização onde bem entendessem os comandos militares.
Era, além disso, extinto também o Campo Entrincheirado de Lisboa
e o respetivo Quartel-General. Esta última medida era de simbólico valor
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estratégico-militar, na medida em que o Campo Entrincheirado de Lisboa era
o símbolo da ideia de “defesa recuada” e a sua extinção significava a completa
desvalorização dessa mesma conceção. Além disso, ela tinha outro valor
simbólico, porque a manutenção do Governo Militar de Lisboa com a sua
dupla função de cargo administrativo e operacional, significava a valoração
simultaneamente simbólica e concreta do domínio militar sobre o poder político.
A afirmação de um novo projeto estratégico não se limitava à legislação, visto
por esse mesmo ano ter sido feito um esboço de um plano de defesa de Portugal
que objetivava a “defesa avançada”, e que denominar-se-á de “plano de Júlio de
Morais Sarmento” por ser este oficial que o assina no seu termo.
O texto, intitulado “Memória sobre a defesa de Portugal” é um texto
manuscrito com data de 26 de Julho de 1926, trazendo na capa a referência
ao Estado-Maior do Exército, 1º Direção, 2º Repartição, isto é, a repartição
encarregada da defesa da metrópole e das operações de guerra. Não quer
com isto dizer que se trate de um texto oficial, pois o seu carácter manuscrito
gera sinceras dúvidas sobre a sua institucionalização, mas é provável que não
o sendo, possa ser considerado apesar de tudo como um texto oficioso, que
exprimisse a visão do Exército sobre a política de defesa militar nacional que
devia ser seguida. O texto é clarividente nas opções tomadas, recusando como
desmoralizante o abandono e a perda de território nacional e considerando
como ineficaz a conceção de defesa recuada (salientando mesmo quem era
16 Idem, ibidem, p. 435.
17 Idem, ibidem, p. 435.
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