Page 423 - recrutamento
P. 423

11. Nação e Mobilização – Estratégia e Recrutamento na Era Salazar (1933-1959)

               militares, não só como elementos para o recrutamento, mas de mobilização da
               reserva, era fundamental para assegurar um exército mobilizado muito maior,
               visto o controlo sobre a essa força permanecer teoricamente, para lá da fase de
               recruta e instrução, nas mãos do corpo de oficiais do Exército, contrariamente ao
               que acontecia durante a I República, com as denominadas escolas de repetição,
               o que possibilitaria, além disso, a maior mobilidade dos soldados mobilizados, já
               não apensos às divisões territoriais (igualmente extintas ), mas disponíveis para
                                                                 16
               utilização onde bem entendessem os comandos militares.
                     Era,  além  disso,  extinto  também  o  Campo  Entrincheirado  de  Lisboa
               e  o  respetivo  Quartel-General.   Esta  última  medida  era  de  simbólico  valor
                                            17
               estratégico-militar, na medida em que o Campo Entrincheirado de Lisboa era
               o símbolo da ideia de “defesa recuada” e a sua extinção significava a completa
               desvalorização  dessa  mesma  conceção.  Além  disso,  ela  tinha  outro  valor
               simbólico,  porque  a  manutenção  do  Governo  Militar  de  Lisboa  com  a  sua
               dupla  função  de  cargo  administrativo  e  operacional,  significava  a  valoração
               simultaneamente simbólica e concreta do domínio militar sobre o poder político.
               A afirmação de um novo projeto estratégico não se limitava à legislação, visto
               por esse mesmo ano ter sido feito um esboço de um plano de defesa de Portugal
               que objetivava a “defesa avançada”, e que denominar-se-á de “plano de Júlio de
               Morais Sarmento” por ser este oficial que o assina no seu termo.
                     O texto, intitulado “Memória sobre a defesa de Portugal” é um texto
               manuscrito com data de 26 de Julho de 1926, trazendo na capa a referência
               ao Estado-Maior do Exército, 1º Direção, 2º Repartição, isto é, a repartição
               encarregada da defesa da metrópole e das operações de guerra. Não quer
               com isto dizer que se trate de um texto oficial, pois o seu carácter manuscrito
               gera sinceras dúvidas sobre a sua institucionalização, mas é provável que não
               o sendo, possa ser considerado apesar de tudo como um texto oficioso, que
               exprimisse a visão do Exército sobre a política de defesa militar nacional que
               devia ser seguida. O texto é clarividente nas opções tomadas, recusando como
               desmoralizante o abandono e a perda de território nacional e considerando
               como ineficaz a conceção de defesa recuada (salientando mesmo quem era






               16  Idem, ibidem, p. 435.
               17  Idem, ibidem, p. 435.

                                                                                  411
   418   419   420   421   422   423   424   425   426   427   428