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11. Nação e Mobilização – Estratégia e Recrutamento na Era Salazar (1933-1959)
(implícita) social e económica que daí poderia advir. Para assegurar uma melhor
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cobertura, o “plano Morais Sarmento” propõe igualmente que se considere a
possibilidade de reforçar a fronteiras com numerosas fortificações permanentes
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ou de campo que dificultam as incursões ou a invasão de um suposto inimigo.
Em última análise, o modelo militar proposto aproxima-se do paradigma
estratégico-militar francês, alicerçado na defesa avançada das fronteiras,
precisamente para combater os horrores de destruição e morte que tinham
avassalado o Norte da França durante a Grande Guerra, e assegurar a utilização
dos poderosos recursos industriais da região, à altura, das mais ricas e
desenvolvidas daquele país, assente igualmente na construção de poderosas
estruturas fortificadas abrangentes, que estariam na origem da afamada
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Linha Maginot (construção tão-só iniciada no princípio dos anos 1930).
Paradoxalmente, tendo em conta a visão que tinham os oficiais portugueses do
poder e da eficiência militar da França, esta adotava essa estratégia militar pelas
mesmas razões que davam os militares lusos para adotar a sua, ou seja: a força
e a pujança do inimigo, no caso francês, a Alemanha, e no caso português, a
Espanha, como durante o texto não deixa(am) o(os) autor(es) de lembrar.
O Exército tinha desenvolvido uma conceção de defesa nacional ao longo
dos anos 1920 e 1930. Tinha desde há longo tempo um espaço para um trabalho
doutrinante, que mesmo que sem um aval doutrinal formava e configurava a
opinião pública militar. Este espaço passava pelas escolas oficiais, pelas revistas
de carácter militar, nomeadamente a Revista Militar (fundada em 1849), o
Boletim da Escola Central de Oficiais (primeiro número em 1928) e a Revista
Uma das críticas feitas ao modelo miliciano era efetivamente a sua fraca permanência
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operacional pouco adaptada às guerras modernas, onde era essencial a existência de uma força
de cobertura permanente e bem treinada. Tasso de Miranda Cabral observava que o fundamento
operacional da possibilidade da mobilização demográfica era a garantia de uma sólida cobertura.
CABRAL, Tasso de Miranda – Conferências sôbre Estratégia. Estudo Geo-Estratégico dos Teatros de
Operações Nacionais. 2 Vols., Lisboa: Estado Maior do Exército, 1932. O autor repete pelo texto
essa asserção.
23 AHM – Assuntos Militares Gerais, 3ª Divisão, Caixa 30, 1ª Secção, Nº 37, Op. Cit., f. 10 e 12.
Sobre a política defensiva militar francesa nos finais dos anos 20 e princípios dos anos 30 e a
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origem da Linha Maginot, e sobre a lógica e a racionalidade da Estratégia Operacional francesa
subjacente, quer à defesa avançada, quer à defesa recuada, com vista a travar uma batalha
preparada em posições definidas e constituídas anteriormente ao choque das armas, veja-se
ALEXANDER, Martin S. – The Republic in danger, General Maurice Gamelin and the politics of
french defence, 1933-1940. Cambridge, 1992, pp. 173-178, 186-192, 198-209 e KIESLING, Eugenia
– Arming Against Hitler, France and the Limits of Military Planning, (s/l). University Press of Kansas,
1996, pp. 116-135.
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