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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            de Artilharia, de carácter mais técnico. Não obstante, uma análise mais cuidada
            da perspetiva militar tem de penetrar mais fundo e submergir nas conceções
            operacionais,  nos  planos  e  relatórios  oficiais  ou  oficiosos  do  planeamento
            militar no final dos anos 20 e princípios dos anos 30. É o carácter e a conceção
            destes  planos  que  nos  permitiram  apreender  que  tipo  de  força  pretendia  o
            Exército criar com a nova reorganização da força militar e que relação tinha esta
            arquitetura  organizacional  com  as  questões  da  mobilização  e  recrutamento.
            Planeamento estratégico militar, mobilização e recrutamento eram elementos
            indissociavelmente interligados.

                  Antes de mais, é preciso alertar para o facto de a realidade da situação
            organizativa e material do Exército ser ainda bastante precária. No Relatório dos

            Trabalhos de Preparação da Mobilização para o ano de 1932, considerava-se tão-
            -só a possibilidade de mobilizar, tendo em conta os recursos reais, três divisões
            de infantaria, uma brigada de cavalaria e um Quartel-General de Exército de
            campanha. Na artilharia pesada, havia apenas 8 obuses de 150mm T.R./918.
            Faltavam metralhadoras pesadas para equipar os regimentos de infantaria, e a
            brigada de cavalaria mobilizada teria de ser composta por forças da 1ª Brigada e
            da 2ª Brigada de cavalaria.  Note-se que estas grandes unidades mobilizadas não
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            eram estruturas orgânicas, mas unidades que combinavam elementos oriundos
            dos diversos regimentos de infantaria, dos diversos grupos de artilharia e das
            diversas brigadas de cavalaria. Era uma miscelânea de forças vindas de diversas
            partes do país, com um nível de integração, coerência e coesão bastante baixo. 26
                  Contudo, nos anos 1930 são projetados diversos planos e elaborados
            relatórios  que  substanciavam  a  futura  organização  da  força  militar.  Estes
            documentos visavam pôr em pé de guerra um exército numeroso, massificado,
            equipado com uma panóplia de armamento coerente e moderno, ao mesmo
            tempo  que  se  estabeleciam  as  conceções  de  defesa  que  obrigariam  a  uma
            mobilização demográfica consideravelmente acrescida. Em 1931 é apresentado
            o Relatório da Comissão encarregada de proceder ao estudo do rearmamento
            progressivo  do  exército  sob  a  presidência  do  então  Ministro  da  Guerra,
            Schiappa  de  Azevedo.  O  relatório,  vasto,  abarcava  a  quase  totalidade  da


            25  AHM – Fundo Tasso de Miranda Cabral, 26ª Divisão, 5ª Secção, Caixa 331, Nº 91, 1932.
            26  Segundo  Van  Creveld  toda  a organização  da  estrutura militar tem por  base  fundamental  a
            constituição de uma organização coesa, onde o conhecimento mútuo e a inter-confiança permitam
            aos soldados combater conjuntamente. VAN CREVELD, Martin – Fighting Power. German and U.S.
            Army Performance, 1939-1945. Westport: Greenwood Press, 1982, pp. 74-75.

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