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11. Nação e Mobilização – Estratégia e Recrutamento na Era Salazar (1933-1959)

               o autor na página anterior, “o problema tem, então, dois dados essenciais: a
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               Nação Armada de que fala a nossa Constituição Política, e a cobertura (...).”
               Assim, o autor propõe que o país organize um exército que possa em tempo de
               guerra crescer para uma força de 80.000 a 100.000 homens por cada 1.000.000
               de habitantes,  ou seja, entre 600.000 a 700.000 homens, tendo em conta
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               uma população portuguesa de cerca de 6.500.000 habitantes nos anos 1930.
               A função do Exército em tempo de paz seria a de instruir, mobilizar e cobrir a
               fronteira, no limite assegurando a inviolabilidade do país (este era na verdade
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               o almejo de todos estes planos militares).
                     A  perspetiva  de  F.  Santos  Costa  permaneceria  no  parecer  que  ele
               elaboraria para Salazar um ano depois. Nesse documento procurava analisar
               a  situação  do  rearmamento  do  Exército  em  toda  sua  amplitude,  incluindo  o
               equilíbrio necessário entre a situação financeira do país e o esforço de defesa
               nacional no que toca a força militar. A solução encarada propunha a resolução
               do problema de rearmamento em duas fases. Numa primeira fase adquiria-se o
               material de guerra indispensável à instrução e à cobertura da mobilização e da
               concentração da força mobilizada. Numa segunda fase resolver-se-ia a aquisição
               do material de guerra destinado às forças mobilizadas.  Santos Costa salientava
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               o absurdo de ter em depósito todo o material destinado às forças mobilizadas,
               porque caso a guerra só eclodisse num horizonte de 20 a 30 anos, todo o material
               entretanto adquirido estaria à altura obsoleto.  Segundo este prisma, o material
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               de guerra a adquirir deveria equipar apenas as cinco divisões de 1ª linha, com
               as suas unidades de artilharia reduzidas a um regimento, não os dois na altura
               existentes,  porquanto  não  se  justificava  que  forças  militares  com  missões
               defensivas precisassem de armas de artilharia em tão grande quantidade, com
               mais bocas-de-fogo por batalhão que as unidades francesas do mesmo tipo e

               45  COSTA,1935, p. 144. (as palavras em itálico são do próprio texto).
               46  COSTA, 1935, pp. 146-147. Observe-se que segundo estes dados, e tendo em conta que Portugal
               tinha cerca de 6.500.000 de habitantes, isto significaria um exército mobilizado de entre 480.000 a
               600.000 homens, muito próximo por conseguinte dos dados apresentados por Tasso de Miranda
               Cabral nas “Conferências de Estratégia” em 1932. CABRAL, 1932, 1ºVol., p. 208 e 2º Vol., pp. 292,
               294-5 e 297.
               47  COSTA, 1935, p. 147.
               48  Comissão do Livro Negro Sobre o Regime Fascista (CLNRF) – Correspondência de Santos Costa
               para Oliveira Salazar (1934-1950),    V    Pr    Con    Ministr
               Document    dat        outubr        56.
               49   CLNRF,      56-57.
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