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11. Nação e Mobilização – Estratégia e Recrutamento na Era Salazar (1933-1959)
ou 3 regimentos não endivisionados, de número igual ao existente de batalhões
de metralhadoras, de forças de defesa de costa e de bases navais, e de tropas
de corpo de Exército. As forças compostas por batalhões de caçadores, brigadas
de cavalaria e unidades de artilharia de montanha e defesa de costa e de bases
seriam estruturadas de acordo basicamente com as necessidades de segurança
do território. Seriam ainda previstas as escolas de recrutamento e preparação
de oficiais, de escolas de aplicação e aperfeiçoamento, em princípio por cada
Arma ou Serviço, e criado o Instituto de Altos Estudos Militares para o curso de
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estado-maior e a preparação do generalato.
As Diretivas Gerais propõem a criação de quatro divisões, mais uma hoste
de forças adicionais de menor dimensão: regimentos, batalhões e brigadas não
endivisionadas, visando com toda a certeza a criação de uma força de primeira
cobertura. A hoste de forças não endivisionadas é suficientemente ampla
para se poder considerar que Salazar enquanto Ministro da Guerra pretendia
seguir teoricamente e de grosso modo, a proposta dos teóricos militares.
Não se pode desconsiderar outro fator. Em Julho de 1936 rebentara a Guerra
Civil em Espanha, com o Estado Novo português a apoiar os “nacionalistas”,
aumentando exponencialmente os riscos na fronteira raiana. A ambiência
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agónica na Europa crescia a passos largos com as audácias de Hitler e de
Mussolini. A pressão continental agigantara-se e a necessidade de reorganizar
o Exército intensificara-se. Neste ambiente, condicionando ainda tudo à
restrição orçamental, estaria Salazar, contudo, mais propenso a aumentar os
efetivos do Exército.
64 Apesar de ter referenciado três vezes este documento, nenhum aparece datado ou com
referências à sua mais provável datação. A Correspondência de Santos Costa remete-o para o fim de
1936, mas o mais provável é que seja de meados do ano, provavelmente para o Verão. Ele é a base
a partir do qual se fundamenta as futuras leis relativas à força militar. CLNRF – Correspondência de
Santos Costa para Oliveira Salazar (1934-1950). 1º Vol., (s/l). Presidência do Conselho de Ministros,
1988, Documento 16, Diretivas gerais que devem presidir aos estudos acerca da reorganização do
Exército, pp. 88-92. Dois originais encontram-se igualmente em Arquivos Nacionais da Torre do
Tombo (ANTT) – AOS/CLB/MMB/ 1, Processo 1, Pasta 1, ponto E). E em ANTT – AOS/CO/GR 10,
Pasta 3. O primeiro documento está manuscrito e o segundo dactilografado.
65 O sentimento de ameaça cresceu consideravelmente entre as hostes do regime no verão de
1936. Dinamizou nas palavras de Fernando Rosas a “crispação fascizante” do regime no final da
década e levou à constituição da legião Portuguesa, como instrumento “miliciano” de defesa do
regime. Sobre a impressão produzida nas hostes do regime pelo triunfo em Espanha da Frente
Popular e o impacto político que conduziu ao apoio aos nacionalistas na Guerra Civil Espanhola.
TORRE GÓMEZ, Hipólito de la – A Relação Peninsular na Antecâmara da Guerra Civil de Espanha
(1931-36). Lisboa: Edições Cosmos, 1998, pp. 92 e seguintes.
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