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11. Nação e Mobilização – Estratégia e Recrutamento na Era Salazar (1933-1959)

                     A lei 1961 sobre o recrutamento e o serviço geral confirmava a formação
               de uma força baseada no princípio e no conceito de nação armada, criando
               um serviço geral obrigatório de 28 anos de serviço militar, repartido em três
               núcleos, as tropas ativas com seis anos, as tropas licenciadas com dezasseis anos
               e as tropas territoriais com seis anos. As tropas ativas dividir-se-iam depois em
               dois núcleos, um de recruta e instrução com cerca de dezasseis meses (quatro
               na recruta e doze no quadro permanente) e cinco anos na disponibilidade (art.º
               28 e art.º 31).  Às forças na disponibilidade, como já se referiu, cabia formar
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               em  tempo  de  guerra,  o  reforço  do  núcleo  de  cobertura.  O  governo  deixava
               cair o serviço militar geral de dois anos, reduzindo-o a um, mas ressalvava a
               possibilidade  de  aumentar  o  tempo  de  serviço  militar  se  as  necessidades  o
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               exigissem (art.º 35).
                     Pode-se dizer que com as Leis 1960 e 1961 se definia uma organização
               militar baseada na ideia da “nação em armas”, na conscrição e na mobilização
               demográfica de todos os homens válidos para o serviço militar, enquadrados
               por  um  corpo  de  profissionais  do  mester  das  armas  que  encabeçariam  a
               direção dessa massa e dessa força em tempo de paz – instruindo – e em tempo
               de  guerra  –  comandando,  os  oficiais  de  carreira  do  Exército.  Era  o  exército
               semipermanente, que deveria ser capaz de mobilizar em tempo de guerra cerca
               de 500.000 soldados.
                     Num certo sentido, o Serviço Militar Obrigatório, tal como foi estruturado,
               começou de facto no final dos anos 1930 do século XX e terminou na década
               inicial do século XXI. Ele respondia a uma asserção do General Adriano Beça,
               que no rescaldo da Grande Guerra observara que as guerras contemporâneas
               eram confrontos entre nações, o que implicava o princípio da “nação armada”
               e a criação de exércitos de massas baseados na conscrição universal.  Para os
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               coevos, diz o historiador Jay Winter, mobilização em massa e a morte em massa,
               simbolizam, concretamente e imageticamente, a experiência da Grande Guerra,
                                                                                     77
               e esta leitura tinha objetivamente uma leitura estratégica e uma leitura militar.
               74  Ordens do Exército, Nº 9, 13 de outubro de 1937, Lei 1961 de 1 de Setembro de 1937, Lisboa,
               pp. 714-715.
               75  Ordens ..., p. 715.
               76  BEÇA, Adriano – Lições da Grande Guerra. Revista Militar, nº 8 (agosto de 1919), pp. 453-454.
               77  WINTER,  Jay  –  Victimes  de  La  Guerre:  morts,  blésses  et  invalides.  In  AUDOIN-ROUZEAU,
               Stéphane  ; BECKER Jean-Jacques (Dir.) – Encyclopédie de la Grande Guerre  1941-1918  P
               Bayar
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