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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            sobre os TO de Portugal, não deixara de reconhecer as similitudes orográficas,
            hidrográficas e topográficas que uniam o território português ao do seu vizinho,
            uma  continuidade  do  espanhol,  mas  avisara,  que  perante  e  apesar  de  isso,
            predominava a validação da distinção dos TO pela sua finalidade em detrimento
            da geografia geral da Península Ibérica.  Ora, como se pode constatar, o contrário
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            do que propunha Alberto Andrade e Silva.  As conceções ideológico-estratégico-
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            -militares têm racionalidades distintas das geopolíticas e geoestratégicas.
                  Em janeiro de 1951, um documento intitulado o Esforço Militar Português
            apresentava os resultados alcançados desde a reforma de 1937 pelo Exército e
            antevia o futuro. O texto afirmava que havia armamento ligeiro para dez divisões,
            artilharia ligeira e pesada também para 10 divisões, material de engenharia para
            cinco divisões, material de transmissões para 3 divisões, material de artilharia
            anticarro para cinco divisões, mas de modelo antiquado, e material blindado
            apenas  suficiente  para  uma  divisão.  O  documento  observava,  todavia,  que
            derivado da falta de oficiais milicianos e do quadro e de sargentos era inviável
            a  mobilização  dos  300.000  homens  já  disponíveis,  pretende-se,  no  entanto,
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            alcançar o efetivo de dez divisões de infantaria e uma divisão blindada.
                   Em fevereiro de 1951, o EME referia precisamente ter como objetivo
            a  mobilização  de  dez  divisões.  Para  isso,  considerava  como  fundamental
            incorporar  31.000  homens  nas  fileiras  nesse  ano,  com  vista  a  assegurar  as
            necessidades das seguintes unidades: cinco divisões de infantaria, uma divisão
            mecânica, quartéis-generais de corpo de exército e do estado-maior do Exército,
            artilharia antiaérea e artilharia de costa. Contudo, verificava-se que existia uma

            deficiência no número de oficiais milicianos. Havia 6700 no efetivo, precisando-
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            -se  de  mais  5200  homens.   Estamos  perante  um  projeto  ponderado  pelos

            88  CABRAL, 1932, 1º Vol., p. 26.
            89  Não era só Andrade e Silva  que publicitava  a nova perspetiva geoestratégica. Também na
            Revista  de  Artilharia  surgiu  um  texto  com  o  mesmo  sentido.  O  Coronel  José  Alfredo  Esteves
            Pereira afirma então também que a Península Ibérica era um todo estratégico, derivado de ser
            uma  região  natural  da  Europa,  o  que  justificava  a sua  autonomia  como teatro  de operações.
            PEREIRA, José Esteves – A Península Ibérica na Defesa da Europa. Revista de Artilharia, Nº 322
            (abril de 1952), pp. 407-411.
            90  Este documento é citado em MACEDO, Ernesto A. L. Ferreira de – Subsídios para o Estudo do
            Esforço Militar Português na Década de 50, os compromissos com a OTAN. 1º Volume. Lisboa,
            1988, pp. 24-26.
            91  AHM – Índice Provisório, Classificador-Geral, F 1ª C, Núcleo 124, Caixa 254, informação do EME,
            3ª Direção Geral, 3ª Repartição datada de 17 de fevereiro de 1951.

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