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11. Nação e Mobilização – Estratégia e Recrutamento na Era Salazar (1933-1959)
estivessem nos Pirenéus na sexta semana subsequentemente ao desencadear
da ofensiva terrestre e por isso, as primeiras forças militares portuguesas teriam
de estar completamente apetrechadas nessa linha na sexta semana, para apoiar
a defesa ocidental. Os Pirenéus eram uma das linhas fundamentais de defesa
ocidental, protegendo um dos bastiões da defesa da Europa ocidental. O texto
considerando o posicionamento das forças lusas, além dos Pirenéus, aquém dos
Pirenéus e nos Pirenéus, optava pela última, na medida em que a primeira não
garantia a eficaz defesa da Europa face à superioridade de meios do inimigo e a
segunda era, face ao desfasamento de potencial militar entre a defesa e o ataque,
e dadas as condições geográficos-topográficas, de defensibilidade irrisória. Isto
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significava que a racionalidade da defesa portuguesa se centrava no perigo de
uma ameaça puramente epirocrática, e por conseguinte, dava primazia a defesa
terrestre e à força terrestre.
Quando em 1950 se começa a questionar na liderança da OTAN e nos
EUA quais os recursos que os diversos membros, incluindo Portugal, podem
fornecer para a defesa da Europa ocidental, a resposta do governo de Lisboa
espelha todo o projeto de defesa então em consecução. Ela também espelha
aquilo que a liderança militar portuguesa considerava já ter alcançado e aquilo
que pretendia evidenciar, ou seja, apresenta à OTAN e aos norte-americanos a
visão que os documentos de início de 1951 acabaram por expor. Assim, afirmava
Salazar, que o esforço consequente e difícil de doze anos permitira a Portugal
dispor já de quadros para equipar em pessoal sete divisões, e dispor de armas
ligeiras e artilharia para dez divisões. Não obstante, faltava material automóvel
e de transmissões, blindados e tratores, munições e meios de vigilância aérea e
naval, radares e artilharia antiaérea e anticarro. Salazar dizia que, contudo, se
pretendia formar dez divisões normais mais uma blindada. Salientava por fim que
o dispêndio com a defesa representava 30% do orçamento do Estado, 16% gasto
no Exército, 8% na Armada e 6% nas forças policiais e militarizadas. Reconhecia
por fim o Presidente do Conselho que sem o auxílio dos aliados, seria difícil fazer
crescer o orçamento dedicado à defesa e à capacitação da indústria de defesa
nacional. Note-se que as maiores faltas são representadas pelo material mais
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96 ANTT – AOS/CO/GR-10, Pasta 15., ff. 549 e seguintes. Lembre-se a tese já apresentada de
Santos Costa sobre a defesa dos Pirenéus e da Península Ibérica. Cf. Infra.
97 ANTT – AOS/CO/NE 17 – 1, Pasta 11, Carta enviada ao Embaixador dos EUA respondendo a
uma questão posta pelo Presidente dos EUA sobre quais os recursos que Portugal poderia fornecer
ao Pacto do Atlântico, assinada por Salazar e datada de 19 de agosto de 1950, ff. 612-623.
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