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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
mais um corpo de exército para a OTAN tinha sido tomada nas conferências
realizadas entre o Ministro da Defesa Nacional e o marechal Montgomery em
1952. No relatório final sobre as conversações aparece a indicação de duas
divisões mais um corpo de exército a fornecer à OTAN, mantendo-se igualmente
as três divisões assignadas à defesa dos Pirenéus. 107
A tendência da direção política, ou seja, de Santos Costa, era a de ter
maior número de grandes unidades possíveis para enviar para a linha de Frente
da OTAN. De uma para duas e por fim a criação de um corpo de exército com
elementos não endivisionados, chegando a pensar-se numa terceira divisão,
conservando-se igualmente a ideia de enviar para os Pirenéus um corpo de
exército com três divisões. A lógica de crescimento desmesurado dos meios
militares a assignar era provavelmente facilitada pelo pressuposto que tinha a
liderança político-militar portuguesa de que os EUA e a OTAN estariam dispostos
a pagar o preço pela multiplicação da força armada nacional, pensando-se que
havendo os efetivos, o reequipamento seria quase automaticamente concedido.
Este facto podia ser amplificado pelas notícias que exibiam o descontentamento
dos EUA com a lenta e retardada preparação militar dos aliados europeus, que
com menos recursos, gastavam ainda assim menos na defesa que os norte-
-americanos. As críticas dos EUA serviriam de estímulo a Santos Costa para
108
apostar numa maior visibilidade do seu projeto como instrumento para o reforço
da sua posição política interna e externa. Isso talvez explicasse a pressão do
Ministro da Defesa para o desmesuramento exponencial do Exército português
na OTAN.
107 ANTT – AOS/CO/PC-78M, Pasta 1, Nº 1, Documento intitulado Sumário da Conversa,
Conferência entre o Ministro da Defesa e o Marechal Montgomery, (em 26-IV-1952), f. 34 e o
Documento intitulado Apontamento de Conversa, Conferência entre o Ministro da Defesa e o
Marechal Montgomery (30-IV-1952), ff. 43-44, pp. 3-4 do respetivo doc. Saliente-se que entre os
parâmetros considerados relativos à força militar terrestre portuguesa, aparecia a existência de
material básico para equipar 10 divisões nacionais. Idem f. 35.
108 Segundo uma carta da embaixada de Portugal em Washington, os EUA gastavam 44% do
seu orçamento na defesa contra 36% do espanhol, o país europeu que proporcionalmente mais
dinheiro fornecia à defesa e 25% em Portugal. Arquivo Histórico Diplomático do Ministério dos
Negócios Estrangeiros (AHDMNE) – Maço 705, Armº 3, Proc. Nº 33,12, Esforço de Defesa Comum
do Pacto do Atlântico, Carta da embaixada de Portugal em Washington ao Ministério dos Negócios
Estrangeiros datada de 19 de fevereiro de 1951. Sobre as críticas dos EUA aos aliados, vejam-
-se por exemplo, as cartas de E. Vieira Leitão da Legação em Bruxelas ao Ministro dos Negócios
Estrangeiros datada de 7 de maio de 1951 em AHDMNE, Idem, e da embaixada de Portugal em
Washington ao Ministério dos Negócios Estrangeiros de 12 de janeiro de 1951, em AHDMNE,
Idem, Ibidem.
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