Page 455 - recrutamento
P. 455

11. Nação e Mobilização – Estratégia e Recrutamento na Era Salazar (1933-1959)

                     No  entanto,  começavam-se  mesmo  a  encontrar  muitos  escolhos  para
               desenvolver  a  1ª  Divisão  de  Infantaria.  Um  dos  problemas  centrais  era  o
               elevado  número  de  especialistas  exigidos  pela  orgânica  de  tipo  americano.
               Para conseguir superar em parte esse escolho, optou-se, em 1953, na orgânica
               divisional portuguesa, por formar os elementos especialistas numa graduação
               mais  baixa  do  que  aquela  que  acontecia  com  a  divisão  norte-americana.
               Efetuou-se assim a formação de especialistas em postos mais baixos do que
               era normal no exército dos EUA, inclusive, adjuvar elementos milicianos a essas
               funções.  Como observa Jorge Silva Rocha, “a braços com índices elevados de
                       118
               analfabetismo e reduzida disponibilidade financeira, Portugal não dispunha dos
               recursos necessários à manutenção de quadros permanentes nas quantidades
               que a diferenciação entre o serviço normal das tropas e o serviço de instrução
               anual  normalmente  exigiriam”.   Ora,  os  delegados  do  SHAPE  salientavam  à
                                           119
               altura que “la qualité d´abord” era o essencial, e que tendo Portugal já uma
               divisão em 1953, tudo devia fazer para melhorar a sua operacionalidade em
                              120
               1954 e em 1955.
                     Um relatório datado de 1956, já tardio, por conseguinte mais relevante, dá
               uma ideia das enormes dificuldades que se encontravam para garantir a formação
               da  divisão  da  OTAN,  então  já  instalada  em  Santa  Margarida.  Segundo  o(os)
               autor(es) do texto, faltavam quadros e especialistas, particularmente nas áreas
               de transmissões e de manutenção de material. Os quadros de complemento,
               e mesmo os quadros permanentes, apresentavam uma preparação deficiente,
               provavelmente,  o  texto  não  o  afirma  taxativamente,  da  instabilidade  na  sua
               permanência  na  divisão.  O  completamento  também  tinha  atrasos  em  ser
               ativado, e os quadros permanentes eram movimentados excessivamente. Além
               disso, faltavam quadros para a instrução, a que se juntavam meios insuficientes
               de manutenção do material. Era salientado o desgaste do material já existente,
               necessitando para cúmulo de cuidados de manutenção maiores. Juntava-se a
               falta de pessoal especializado para a manutenção do material, nomeadamente
               dos carros de combate, e a falta crónica de sobresselentes e de instalações para


               118  ANTT  –  AOS/GR-10,  Pasta  16,  Documento  emanado  da  3ª  Repartição  do  EME  intitulado
               Relatório dos trabalhos realizados de 26 a 30 de Junho na 3ª Repartição do EME com os delegados
               do SHAPE para a revisão anual de 1953, datado de 30 de Junho de 1953, f. 576.
               119  ROCHA, Jorge Silva. Planeamento de Defesa e Gestão das Alianças. Portugal nos Primeiros
               Anos da Guerra Fria, 1945-1959. Dissertação de Doutoramento. Lisboa: ISCTE, 2013, pp. 111-112.
               120  Idem, f. 581. A citação em francês vem no termo do texto.

                                                                                  443
   450   451   452   453   454   455   456   457   458   459   460